Os quadros de depressão, ansiedade e outros transtornos da mente têm se tornado cada vez mais frequentes no Brasil e no mundo. É muito comum que esses transtornos “roubem” toda a motivação da pessoa que os enfrenta. Assim, fica difícil trabalhar, estudar, cuidar da casa e até levantar da cama ou tomar banho. Até mesmo atividades que antes despertavam prazer passam a ser evitadas.
Isso é muito prejudicial, pois evitar as atividades do dia a dia aumenta ainda mais o desânimo e a crença de incapacidade. Nesse sentido, a psicologia desenvolveu uma ferramenta muito positiva para reverter esse quadro: a ativação comportamental. Neste artigo, vamos compreender como ela funciona e quais são os seus benefícios. Acompanhe!
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O que é ativação comportamental?
A ativação comportamental (do inglês, Behavioral Activation, ou BA) é uma intervenção terapêutica desenvolvida originalmente como parte da terapia cognitivo-comportamental (TCC), voltada principalmente para o tratamento da depressão, mas também pode ser adaptada para outros transtornos da mente.
Essa abordagem foca na relação entre os comportamentos e o humor, partindo do princípio de que a redução da atividade em resposta à depressão — como evitar compromissos, hobbies ou interações sociais — pode intensificar e perpetuar os sintomas depressivos.
Assim, a ideia central da ativação comportamental é que a inatividade e o isolamento mantêm ou pioram o estado depressivo, formando um círculo vicioso de tristeza, desânimo e passividade.
Nesse sentido, a ativação comportamental incentiva o indivíduo a, de maneira gradual, retomar ou experimentar novas atividades que possam gerar prazer, satisfação ou uma sensação de realização. O objetivo é aumentar o contato com reforços positivos no ambiente, ao mesmo tempo em que se reduz a exposição a padrões de evitação ou escape que, muitas vezes, agravam os sintomas depressivos.
Como esse processo é realizado?
O processo de ativação comportamental segue uma estrutura que pode ser adaptada às necessidades individuais. A abordagem geralmente inclui os seguintes passos:
1. Avaliação inicial
Inicialmente, um terapeuta avalia os padrões comportamentais atuais do paciente, identificando as atividades que ele tem evitado ou interrompido por causa da depressão. Isso pode incluir a redução da interação social, a perda de interesse por hobbies ou a falta de engajamento em atividades produtivas. Quedas de produtividade nos estudos, no trabalho e nos cuidados domésticos também são investigadas.
2. Identificação de comportamentos-alvo
Em seguida, o terapeuta e o paciente colaboram para identificar comportamentos e atividades que, ao serem retomados ou introduzidos, possam melhorar o bem-estar e o humor. Essas atividades devem ser significativas, agradáveis ou gerar uma sensação de realização. Pode ser uma simples caminhada, de 30 minutos, pelas ruas do bairro.
3. Definição de metas realistas
A ativação comportamental se baseia em pequenos passos, com a criação de metas específicas, mensuráveis, alcançáveis, relevantes e temporais (SMART). Isso pode significar retomar uma atividade que a pessoa costumava gostar, como caminhar no parque ou visitar amigos, ou iniciar novos hábitos, como atividades físicas ou hobbies criativos. Todavia, as metas são realistas. Não adianta pedir ao paciente que caminhe 2 horas por dia se ele tem sentido uma intensa falta de energia.
4. Planejamento e execução
O terapeuta ajuda o paciente a planejar essas atividades de forma prática, encaixando-as na rotina de maneira viável. O planejamento inclui antecipar possíveis obstáculos e preparar estratégias para lidar com eles. Esse planejamento é desenvolvido para iniciar a atividade escolhida de forma leve, com aumentos graduais de tempos em tempos. Isso ajuda a pessoa a recuperar a autoconfiança, sem forçá-la — o que pode gerar mais sofrimento.
5. Monitoramento e ajustes
O paciente é incentivado a monitorar como se sente antes, durante e após as atividades, percebendo os efeitos positivos no humor. O terapeuta ajusta o plano com base no progresso, aumentando gradativamente o nível de engajamento. Em geral, a própria percepção de atividades cumpridas ajuda o paciente a se sentir melhor consigo mesmo, recuperando a autoestima e a alegria.
Quais são os benefícios da ativação comportamental?
A ativação comportamental oferece uma série de benefícios, especialmente no tratamento da depressão, mas também pode ser útil para outras condições, como ansiedade e transtornos de estresse. Conheça os principais benefícios.
1. Redução dos sintomas depressivos
Ao quebrar o ciclo de inatividade e isolamento, o indivíduo começa a experimentar uma melhora no seu humor e bem-estar emocional, uma vez que passa a realizar atividades que trazem prazer e satisfação. Isso, por si só, contribui para a redução da intensidade e da frequência dos sintomas depressivos.
2. Aumento da sensação de controle
A ativação comportamental ajuda a pessoa a se sentir mais no controle da própria vida, ao escolher e executar atividades de forma intencional. Isso reforça a autossuficiência e promove uma sensação de competência, ajudando a reduzir o sentimento de impotência que frequentemente acompanha a depressão.
3. Melhoria nas relações interpessoais
O retorno a atividades sociais e interações com amigos e familiares pode melhorar os relacionamentos, que muitas vezes são prejudicados pela depressão. A ativação comportamental encoraja a reconexão com a rede de apoio, o que, por sua vez, reforça o suporte emocional e a troca afetiva.
4. Maior motivação e energia
À medida que o paciente começa a se envolver novamente em atividades significativas, ele pode experimentar um aumento na energia e motivação. A inatividade tende a drenar a energia, enquanto a ação pode criar um efeito oposto, proporcionando mais disposição para enfrentar o dia a dia.
5. Melhora na qualidade de vida
Com o tempo, a reintrodução de atividades prazerosas e construtivas pode levar a uma melhora geral na qualidade de vida. O indivíduo se reconecta com atividades que antes eram prazerosas e descobre novas formas de sentir satisfação. No caso das atividades físicas, há benefícios para o corpo e para a mente, já que elas intensificam a liberação de substâncias que combatem o estado depressivo, como endorfina e serotonina.
6. Eficiência em longo prazo
A ativação comportamental é uma técnica relativamente simples de aprender e pode ser facilmente integrada à rotina do paciente, o que a torna uma estratégia eficaz em longo prazo. Além disso, é uma ferramenta que o paciente pode continuar a usar, mesmo após o término da terapia formal.
Concluindo, a ativação comportamental é uma intervenção eficaz, que pode trazer grandes benefícios para quem luta contra a depressão ou outros transtornos que afetam o humor e a motivação. Trata-se de uma forma prática e orientada a ações de ajudar o paciente a reconquistar a vitalidade e o bem-estar, atuando diretamente nos comportamentos que mantêm o sofrimento emocional.
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