O emaranhado de conhecimento guardado por nosso cérebro é maior do que podemos conceber. Sabemos basicamente do que ele é capaz, mas as descobertas nesse campo não raramente surpreendem até mesmo as expectativas mais otimistas que mantínhamos sobre o seu funcionamento.
Por mais que as ciências tenham tentado nos libertar da sensação de que no fundo não fazemos muita ideia do que realmente se passa nas nossas cabeças, a verdade é que essa condição continua a nos acompanhar. E se ela é marcante no que tange aos detalhes do funcionamento do corpo humano, podemos acrescentar que uma boa dose de dúvidas nesse quesito é algo que se tem de sobra quando se trata do cérebro e seus mecanismos.
Não por acaso, portanto, as mais interessantes lufadas de conhecimento e novas revelações quanto ao cérebro veem à tona justamente no contexto das formas de aprendizagem de que se vale nossa massa encefálica. Para aplacar nossa curiosidade, muito tem sido revelado nesse aspecto, o que certamente nos abre um imenso leque de possibilidades de expansão das nossas potencialidades de aprendizado e assimilação de conteúdo. E basta lembrar que essa é um quase meio caminho para a superinteligência.
Conhecimento, Aprendizagem e Memória
Na teoria, a mecânica básica da aprendizagem é até bastante simples. Na prática, contudo, é que são elas. Em tese, quando em contato com algo novo, isto é, um saber, conhecimento ou informação qualquer que o cérebro ainda não domina, ele processa o elemento que chega como novidade e de imediato o encaminha para a área encarregada do armazenamento.
Essa espécie de almoxarifado mental, responsável por catalogar e arquivar tudo que é recém-chegado a casa é feito por ninguém menos do que a própria memória. A função tem uma importância mais do que notável e também por isso esse departamento cerebral é conhecido a ponto de lhe termos assim, de pronto, na ponta da língua. É sua velha conhecida, a memória.
A memória bem que tenta de imediato fazer o seu trabalho. Mas é a aí que começam a surgir, digamos assim, alguns pontos de gargalo no funcionamento da sua mente. É que, para o seu bom funcionamento, o cérebro acabou desenvolvendo filtros que o impedem de ocupar espaço demais ao memorizar conteúdos desnecessários. Não é apenas no seu escritório que o acúmulo de acervo inadequado faz surgir a necessidade de limpezas constantes para otimizar os espaços de armazenamento. Também dentro da sua cabeça há um eficiente plano de contenção de desperdícios e aproveitamento da capacidade instalada.
A seletividade na memória é algo que efetivamente existe e não é apenas uma coisa que apontamos nos outros quando acabam omitindo dados ou eventos que não lhes foram tão favoráveis. Sua função é listar o que deve e o que não deve ser cortado, com o complemento de reter o que realmente importa. Nesse sentido, entram em campo dois elementos, a memória temporal e outra mais definitiva.
Exercitando a Memória e o Cérebro
A primeira, como o nome não deixa margem para dúvidas, arquiva as informações para um uso imediato. É o que te permite reproduzir com riqueza de detalhes as falas do diálogo marcante que você acabou de ouvir naquele filme ou o que faz você reproduzir com convicção o número de telefone que consultou há cinco segundos. Já no que se refere à memória de longo prazo, o processo é mais complexo e não é sem esforço que algo adquire o status cerebral de poder ser arquivado de modo duradouro.
O xis da questão nesse quesito parece ser mesmo a capacidade de desenvolver a competência de influenciar decisivamente no que deve entrar para o seleto grupo de informações a serem mantidas. Afinal, todos nós temos um histórico de ter conseguido memorizar com tranquilidade o nome daquele personagem sem graça da novela, mesmo sem ter sequer chegado perto de guardar aquela fórmula que foi tão importante na prova em que você se deu mal.
Poder dizer, com base na nossa vontade imediata, o que deve e o que não deve ser armazenado é um daqueles sonhos que todos mantemos e esperamos realizar. A repetição é uma das maneiras pelas quais sabemos que a memorização duradoura opera. Quando se repete algo à exaustão, é certo que seu conteúdo fica lá facilmente acessível, e acaba entrando para o rol de coisas que são quase inesquecíveis. Parece ser pouco provável que você memorize o CEP do seu cliente cinco minutos após ele tê-lo dito.
Por outro lado, é de se assumir que você não tem dificuldades para se lembrar a qualquer tempo de uma sequência numérica ainda maior, desde que, claro, a sequência em questão seja o seu CPF. Há outras formas de se aperfeiçoar a memorização de longo prazo e o uso de múltiplas experiências é algo que sabemos ser impactante para o cérebro.
Pesquisas dão conta de que quando simplesmente lemos algo, o grau de armazenamento da informação gira em torno de mirrados 10% do que foi efetivamente transmitido. É difícil argumentar que não se trata de uma taxa de sucesso, para todos os efeitos, constrangedora, para dizer o mínimo.
Isso desloca o centro da questão para a multiplicidade de sentidos a serem experimentados a fim de se influenciar a memória e determinar de maneira mais acertada o que será ou não tratado com o selo de durabilidade que a memória concede.