A Psicologia Marquesiana e as Constelações Familiares se encontram exatamente onde você sente que o corpo reage a algo que não entende, mas que parece vir de muito antes da sua história. Quando unimos essa visão ao legado de Bert Hellinger, abrimos um caminho empático e profundo para cuidar da alma do sistema e da alma do indivíduo.
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1. Introdução: quando a história do sistema fala através do corpo
O trabalho de Bert Hellinger, com suas Constelações Familiares e Sistêmicas, revelou que estamos conectados a um campo de consciência ancestral que organiza destinos, vínculos e repetições. Nesse campo, emaranhamentos e lealdades invisíveis podem atravessar gerações, influenciando escolhas, sintomas e relacionamentos, muitas vezes sem que a mente consciente consiga explicar o porquê.
Ao mesmo tempo, a psicologia contemporânea e a neurociência convidam você a olhar para o corpo como um mapa vivo dessas memórias: sinais do sistema nervoso, respostas automáticas, dores que parecem não ter “motivo” e emoções que surgem como se fossem maiores que você. É nesse encontro entre campo sistêmico, corpo e cérebro que a Psicologia Marquesiana se posiciona.
A proposta central desta abordagem é acolher a profundidade fenomenológica de Hellinger e, ao mesmo tempo, oferecer uma estrutura neuroemocional que explique como o campo se traduz em sensações, impulsos, imagens internas e movimentos corporais. Em outras palavras, mostrar como a alma do sistema conversa com o seu corpo, passo a passo.
O que é Psicologia Marquesiana?
Psicologia Marquesiana é uma abordagem integrativa que une constelações sistêmicas, neurociência, psicologia somática e espiritualidade aplicada. Ela organiza a experiência humana em uma arquitetura de Três Selfs e em Dores da Alma, explicando como o campo sistêmico acessa o corpo, o sistema nervoso e as emoções para revelar lealdades ocultas e caminhos de reconciliação.
2. Pilares da abordagem fenomenológica de Bert Hellinger
Antes de integrar, é importante honrar as raízes. A força da Psicologia Marquesiana nasce justamente do respeito profundo ao olhar de Bert Hellinger e à sua forma de escutar a alma dos sistemas humanos. Aqui, vamos revisitar três pilares dessa visão, com um olhar amoroso e ao mesmo tempo claro.
2.1 Campo de consciência sistêmico: o corpo como sensório da alma familiar
Para Hellinger, existe um campo de consciência sistêmico que conecta todos os membros de uma família, vivos e mortos. Esse campo guarda informações, memórias, exclusões e destinos que continuam atuando, mesmo quando ninguém fala sobre eles. Ele não é apenas uma metáfora poética, mas uma forma de descrever algo que muitos sentem sem saber nomear.
Dentro desse campo, o corpo do representante ou do cliente se torna um sensório sistêmico. Em uma constelação, quando alguém se posiciona como pai, mãe ou outro membro da família, começa a sentir emoções, tensões, impulsos e movimentos que não são apenas seus, mas do sistema. É como se o campo “escaneasse” o corpo e o utilizasse para trazer à tona aquilo que ficou oculto por muito tempo.
Se você já participou de uma constelação, talvez se lembre de sensações como peso nas pernas, vontade de chorar, olhar que desvia ou impulso de se aproximar de alguém. A fenomenologia de Hellinger convida você a confiar nesses movimentos e a percebê-los como mensagens da alma do sistema.
2.2 As Ordens do Amor: gramática oculta dos sistemas humanos
Hellinger observou que a saúde de um sistema familiar depende do respeito a certas leis, que ele chamou de Ordens do Amor. Quando essas ordens são violadas, surgem sintomas, repetições de destino, bloqueios afetivos e profissionais, bem como padrões de adoecimento que parecem se repetir em diferentes gerações.
As três ordens centrais são:
- Pertencimento: todas as pessoas ligadas ao sistema têm o direito de pertencer.
- Hierarquia: quem chegou antes ocupa um lugar anterior a quem chegou depois, em especial entre pais e filhos.
- Equilíbrio entre dar e receber: vínculos saudáveis tendem a buscar um fluxo dinâmico entre o que se dá e o que se recebe.
Em conteúdos da própria JRM, essas leis são aprofundadas como uma verdadeira gramática do amor sistêmico, ajudando a compreender por que exclusões, inversões de lugar e trocas desequilibradas geram tanto sofrimento em famílias e organizações.
Se você quiser se aprofundar mais nessa perspectiva, pode explorar a visão sobre as Ordens do Amor na constelação familiar e também conteúdos que tratam das leis que regem o equilíbrio dos sistemas.
2.3 Movimentos da alma e representante: quando algo maior pede passagem
Na linguagem de Hellinger, os movimentos que surgem durante a constelação são chamados de movimentos da alma. Eles não vêm da vontade do representante ou do constelador, mas de um nível de consciência mais amplo, que busca incluir quem foi excluído, devolver o que foi tomado e recolocar cada um em seu lugar.
Nesse contexto, o representante é um canal sensível, não um ator. Seu corpo é movido por impulsos que parecem espontâneos, mas obedecem a uma lógica profunda. Muitas vezes, as imagens que surgem na constelação tocam memórias que não haviam sido nomeadas, mas que estavam operando silenciosamente há anos.
O desafio da psicologia contemporânea é conseguir honrar essa profundidade sem cair em misticismo, oferecendo explicações que respeitem a experiência do corpo, do cérebro e do campo relacional. É exatamente aqui que a Psicologia Marquesiana começa a dialogar com a fenomenologia de Hellinger.
3. Psicologia Marquesiana: uma estrutura neuroemocional e somática
A Psicologia Marquesiana nasce da prática com constelações, coaching e desenvolvimento humano, unindo observações clínicas com conceitos da neurociência, da psicologia somática e da espiritualidade aplicada. Enquanto Hellinger descreve o que acontece no campo, essa abordagem pergunta como, dentro da psique e do corpo, esses movimentos se organizam.
O que é Psicologia Marquesiana na prática?
Psicologia Marquesiana é uma filosofia aplicada de cuidado psíquico que organiza a experiência em três níveis de Self, em Dores da Alma e em um Campo Integrado da Consciência. Ela mostra como informações sistêmicas se transformam em sensações, emoções, crenças e comportamentos, oferecendo ao terapeuta ou coach um mapa para intervir com mais segurança e profundidade.
3.1 Campo Integrado da Consciência: da alma do sistema ao sistema nervoso
A Psicologia Marquesiana amplia o conceito de campo de Hellinger para o Campo Integrado da Consciência. Esse campo é compreendido como uma teia neuroemocional, somática e psicoespiritual que conecta o indivíduo à sua família, às suas histórias e ao contexto maior em que vive.
Nessa visão, o sistema nervoso autônomo funciona como um radar que capta informações pré-verbais e pré-racionais. A memória implícita guarda traumas ancestrais e experiências não integradas, que se manifestam como sensações, sintomas, reações automáticas e padrões de comportamento. Assim, o campo sistêmico toca o corpo antes de chegar à consciência narrativa.
3.2 Dinâmica dos Três Selfs: um mapa interno do fenômeno sistêmico
No centro da Psicologia Marquesiana está o modelo dos Três Selfs, que explica como a informação do campo é recebida, filtrada e significada dentro da psique:
- Self 1 (Estratégico): ligado à vontade consciente, à lógica, à tomada de decisão e à narrativa que você cria sobre a própria vida.
- Self 2 (Emocional / Inconsciente): capta as informações do campo, das memórias implícitas e das lealdades invisíveis. É o sensório sistêmico interno.
- Self 3 (Guardião): regula o acesso a conteúdos profundos, modulando o que pode vir à tona sem causar retraumatização.
Quando você participa de uma constelação, o que acontece no corpo pode ser compreendido como um diálogo entre Self 2 e Self 3. O Self 1 chega depois, tentando dar sentido ao que emergiu. Essa visão acolhe a fenomenologia e, ao mesmo tempo, oferece uma estrutura clara para a prática.
3.3 Nove Dores da Alma: como o sistema se inscreve no cérebro e no coração
A Psicologia Marquesiana descreve as Dores da Alma como formas específicas de sofrimento que nascem da violação das Ordens do Amor e de outras leis sistêmicas. Essas dores não são apenas estados emocionais vagos, mas padrões neuroemocionais que se instalam no corpo e na mente, influenciando a forma como a pessoa se percebe e se posiciona na vida.
Quando uma dessas dores é ativada, ela tende a funcionar como um filtro: a pessoa passa a interpretar o mundo, as relações e a si mesma a partir daquele registro de dor, muitas vezes repetindo histórias que não começaram nela, mas que pedem reconhecimento, acolhimento e um novo lugar dentro do sistema.
4. Análise comparativa: Ordens do Amor e Dores da Alma
Ao aproximar a fenomenologia de Hellinger da estrutura Marquesiana, fica mais fácil entender como leis sistêmicas externas se transformam em experiências internas. A tabela a seguir mostra algumas correspondências entre Ordens do Amor e Dores da Alma.
| Ordem do Amor (Hellinger) | Dor da Alma (Psicologia Marquesiana) |
|---|---|
| Pertencimento | Dor do não pertencimento |
| Hierarquia | Dor da identidade ferida |
| Equilíbrio entre dar e receber | Dor do merecimento e da troca |
| Exclusão | Dor da rejeição ancestral |
| Emaranhamento | Dor da lealdade invisível |
| Destinos interligados | Dor do chamado interrompido |
Quando a Hierarquia é violada, por exemplo, um filho que assume o lugar de um dos pais pode desenvolver a Dor da identidade ferida. Neurobiologicamente, isso pode aparecer como um padrão de hiperresponsabilidade, medo de falhar, dificuldade em relaxar e alta exigência interna, ativando, por exemplo, circuitos ligados ao estresse crônico.
Do mesmo modo, quando alguém foi excluído do sistema, um descendente pode carregar a Dor da rejeição ancestral, sentindo-se fora de lugar em grupos, relações e projetos, mesmo quando é bem recebido. A dor não nasceu na história pessoal, mas se manifesta como se fosse.
4.1 O representante como diálogo entre Self 2 e Self 3
A Psicologia Marquesiana propõe que o movimento do representante, longe de ser algo místico, é um processo interno organizado em três etapas:
- O Self 2 capta a informação do campo, na forma de emoções, impulsos, imagens internas e sensações corporais.
- O Self 3 avalia se é seguro permitir que essa informação venha à consciência ou ao corpo, modulando a intensidade do movimento.
- O Self 1 observa o que aconteceu e busca construir uma narrativa que faça sentido.
Quando o representante sente vontade de se afastar, de chorar ou de olhar para alguém específico, o que se manifesta é essa conversa silenciosa entre Self 2 e Self 3. O campo atua, o corpo responde, o guardião regula e, por fim, a mente tenta compreender. Ao entender isso, você consegue acolher os fenômenos com menos medo e mais responsabilidade.
5. Aplicações práticas: somática, neurociência e ferramentas da abordagem Marquesiana
Um modelo só ganha vida quando se torna cuidado concreto. A integração entre Hellinger e a Psicologia Marquesiana se traduz em práticas que ajudam a acessar o inconsciente sistêmico com mais precisão e delicadeza, especialmente em contextos com constelações com bonecos, atendimentos individuais e processos de coaching sistêmico.
5.1 Kinesiologia como tecnologia de acesso ao Self 2
Na abordagem Marquesiana, a kinesiologia é vista como um biocomputador emocional. O teste muscular não mede apenas a força do músculo, mas a congruência da resposta emocional ligada àquele tema ou posição sistêmica. Quando um boneco é aproximado ou um tema é evocado, o corpo responde com fortalecimento ou enfraquecimento.
Essa resposta é lida como uma fala do Self 2. Sem depender de longas explicações, o corpo mostra se aquela imagem está alinhada com a verdade profunda do sistema ou se há algo oculto que ainda precisa ser visto. Assim, você consegue um caminho direto para o inconsciente, com a supervisão constante do Self 3.
5.2 Dedo anelar como portal do pertencimento
Na anatomia simbólica da Psicologia Marquesiana, cada dedo corresponde a um princípio psíquico. O dedo anelar é associado aos vínculos e ao pertencimento, funcionando como um portal somático para o campo sistêmico. Não por acaso, ele é o dedo onde, em muitas culturas, se usa a aliança de casamento, simbolizando compromisso e lealdade.
Ao trabalhar temas relacionados a pertencimento, exclusão e lealdades invisíveis, a observação de tremores, fraqueza ou tensão no dedo anelar se torna uma pista valiosa. Ele revela como o Self 3 está regulando o acesso às memórias do Self 2. Quando o dedo enfraquece diante de determinadas imagens, o terapeuta ou coach ganha um indicativo de que aquele ponto ainda está protegido e precisa ser abordado com mais cuidado.
5.3 Bonecos: da projeção à simulação incorporada
Na perspectiva Marquesiana, os bonecos não representam apenas pessoas, mas pontos de informação dentro do campo. Ao posicioná-los como pai, mãe, filho ou outros elementos, o cliente está organizando simbolicamente mapas de sua mente profunda. O cérebro responde a esses símbolos ativando redes neurais semelhantes às que seriam acionadas na presença real daqueles vínculos.
Processos como simulação incorporada, neurônios-espelho e cognição incorporada ajudam a entender por que o corpo reage ao arranjo espacial dos bonecos. Ao olhar para um boneco que representa a mãe afastada, o cliente pode sentir aperto no peito, vontade de se aproximar ou congelamento. O boneco é um convite para que a alma do sistema se manifeste de forma concreta e observável.
Ao integrar esse entendimento com a visão de campo e com os Três Selfs, a constelação com bonecos deixa de ser apenas uma técnica criativa e se torna uma ferramenta alinhada à neurobiologia do trauma, do vínculo e da regulação emocional.
Se você quiser explorar mais conteúdos sobre constelações sistêmicas, postura fenomenológica e alma arcaica no contexto JRM, vale conhecer materiais que falam sobre constelações sistêmicas fenomenológicas, sobre a postura fenomenológico-sistêmica e sobre a alma arcaica e o amor que vê.
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6. Da fenomenologia à neurofenomenologia sistêmica
Quando olhamos juntos para a obra de Hellinger e para a Psicologia Marquesiana, não estamos falando de teorias que competem entre si, mas de camadas diferentes do mesmo movimento. A fenomenologia revela o que aparece no campo. A neurofenomenologia sistêmica procura entender como isso se inscreve no corpo, no cérebro e na psique.
A Psicologia Marquesiana não pretende substituir as Constelações Familiares. Ela oferece uma lente adicional, que ajuda você a sustentar experiências profundas com mais clareza, menos medo e mais responsabilidade. Ao compreender os Três Selfs, as Dores da Alma e o Campo Integrado da Consciência, fica mais fácil reconhecer quando uma imagem está a serviço da cura ou da repetição.
Essa integração convida você a um caminho de humildade e cuidado. Em vez de tentar controlar o campo, você aprende a escutar. Em vez de teorizar em excesso, você se abre para perceber as respostas do corpo. Em vez de se perder em histórias, você volta ao essencial: quem precisa ser visto, honrado e recolocado em seu lugar.
A Psicologia Marquesiana e as Constelações Familiares, quando caminham juntas, oferecem um caminho amoroso e, ao mesmo tempo, profundo para que cada pessoa possa se reconciliar com a própria história, tomar a força do seu sistema e seguir adiante com mais presença, pertencimento e verdade.
Perguntas Frequentes sobre Psicologia Marquesiana e Constelações Familiares
O que é Psicologia Marquesiana na prática terapêutica?
Psicologia Marquesiana é uma abordagem que integra constelações sistêmicas, neurociência, psicologia somática e espiritualidade aplicada. Na prática, ela organiza a experiência em Três Selfs e Dores da Alma, ajudando a compreender como o campo sistêmico se manifesta no corpo, nas emoções e nos padrões de comportamento do cliente.
Qual a diferença entre Psicologia Marquesiana e Constelação Familiar tradicional?
A Constelação Familiar, na visão de Hellinger, foca principalmente na fenomenologia do campo e nas Ordens do Amor. A Psicologia Marquesiana mantém esse olhar, mas adiciona uma estrutura neuroemocional, explicando como o campo toca o sistema nervoso, o inconsciente e a identidade, oferecendo mais mapa para o terapeuta ou coach intervir.
Quem pode se beneficiar dessa integração entre Hellinger e a abordagem Marquesiana?
Profissionais de desenvolvimento humano, terapeutas, coaches e facilitadores de constelações se beneficiam ao ganhar um vocabulário mais preciso para explicar o que acontece na constelação. Clientes que buscam compreender padrões profundos de repetição, sintomas corporais e lealdades invisíveis também colhem frutos dessa visão integrada e acolhedora.
Como a Formação CSI se relaciona com a Psicologia Marquesiana?
A Formação CSI, do IBC, trabalha a constelação sistêmica a partir de uma visão integrativa, dialogando com conceitos que estão na base da Psicologia Marquesiana, como campo sistêmico, postura fenomenológica e cuidado com o corpo e as emoções. Ela oferece um espaço vivencial para aplicar essa filosofia na prática com segurança e profundidade.

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Referências
Marques, J. R. (s.d.). Kinesiologia, Dedo Anelar e a Alma do Sistema: A Ciência do Vínculo Invisível nas Constelações Familiares com Bonecos. Manuscrito não publicado.
Marques, J. R. (s.d.). Psicologia Marquesiana: Notas de Aula. Material visual.
Conteúdos complementares do blog JRM sobre constelação familiar, leis sistêmicas, postura fenomenológica e alma arcaica.

