“Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si. Levam um pouco de nós”. Essa frase é de autoria de Antoine de Saint-Exupéry, escritor francês, autor de “O Pequeno Príncipe”, uma das obras literárias mais traduzidas em todo o mundo.
Essa frase nos revela que, diante das experiências da vida, cada pessoa deixa um pouco de quem é com os outros. Isso quer dizer que cada indivíduo deixa alguma lição, ensinamento, exemplo, sentimento, imagem, enfim, algo de si ao outro. Da mesma maneira, cada pessoa também carrega consigo um pouco de cada um daqueles com os quais convive.
Quem nós somos, ou seja, a nossa personalidade, é resultado de todos aqueles que já passaram por nossas vidas, ou que ainda estão nela. É uma relação de troca, em que todos nós temos a ganhar. É por conta desse compartilhamento de “pedaços” que a humanidade cresce e evolui.
Se todos nós fôssemos iguais, ou se nós nos negássemos a trocar nossos “pedaços”, a verdade é que ninguém sairia do lugar. Ninguém aprenderia nada, ninguém ensinaria nada, ninguém evoluiria. Cada pessoa morreria exatamente do mesmo jeito que nasceu, sem se permitir extrair de cada experiência de vida o que de melhor houver nela.
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Quer dizer que eu sou incompleto?
A frase de Exupéry pode nos dar a impressão de que, sempre doando e recebendo “pedaços”, nós somos incompletos, não é mesmo?
Na verdade, ninguém precisa se sentir incompleto ou dependente de outra pessoa para ser feliz. Todos nós temos “pedaços faltando”, mas eles logo são preenchidos com nossas experiências de vida, com novas pessoas que conhecemos, e assim sucessivamente. No entanto, não podemos nos apegar verdadeiramente a ninguém, pois a única certeza da vida é de que tudo pode mudar ao longo do tempo.
Esse conjunto de pedaços que nos compõe é o que nos torna únicos. Cada indivíduo é resultado da família em que nasceu, das culturas que conheceu, das pessoas com as quais conversou, das amizades que construiu, dos estudos que realizou, dos trabalhos que executou, dos livros que leu, das viagens que fez, dos filmes a que assistiu, dos problemas que enfrentou, das risadas que deu, enfim, das experiências que viveu.
É por isso que você não precisa se sentir incompleto. Cada pessoa é única nesse somatório de experiências de vida. É isso o que torna cada pessoa importante e essencial para o mundo. É isso o que dá graça à vida, enriquecendo a humanidade, de maneira geral.
Pessoas vêm e vão
Algumas pessoas têm importância definitiva em nossas vidas. É o caso de pai, mãe, irmãos, filhos, um ou outro amigo mais permanente. No entanto, todo o resto das pessoas tem um tempo, de certa forma, limitado sobre nossa existência.
Amizades que pareciam eternas enfraquecem, antigos empregos dão lugares a novos, o bairro da infância é substituído por um novo lugar na idade adulta, surgem novos amigos, novos amores, novos pedaços.
Essa é a beleza da vida. Você pode se apegar às pessoas e lamentar profundamente cada partida. Ou pode simplesmente aceitar que a impermanência é mais regra do que exceção. Por isso, as pessoas mais felizes são sempre aqueles que vivem o presente, aproveitando a energia de cada momento e a companhia de cada pessoa. Ninguém sabe quando tudo isso vai acabar, de modo que extrair a alegria de cada segundo é o segredo de uma vida bem vivida.
Se alguém quer fazer parte de sua vida, permita que isso aconteça. Se alguém, por algum motivo, sair dela, permita que isso aconteça também. Entre aproximações e distanciamentos, precisamos ter por perto de nós apenas quem realmente esteja disposto a fazer uma troca enriquecedora — gente disposta a dar e receber novos “pedaços”.
Quanto aos que partiram, seus pedaços continuam conosco. Memórias, lembranças, sentimentos, lições — todos esses são exemplos de valiosos pedaços que nos foram concedidos. São provas de que viver vale a pena.
Arrisque-se
Em cada relação que construímos ao longo da vida, ganhamos e cedemos “pedaços”. Quanto mais diversificada uma pessoa é, maior é a sua coleção de emoções, sentimentos, memórias, conhecimentos, experiências.
Às vezes, sentimos medo de mergulhar nessa troca de pedaços. Isso acontece porque, para que sejamos capazes de sentir e aprender com o outro, também precisamos nos tornar mais vulneráveis de alguma maneira. Esse processo é assustador para muita gente, mas, sem ele, não seríamos capazes de amar, de ser amados, de edificar amizades e até mesmo de estabelecer relações profissionais.
Em cada relação humana, precisamos mostrar quem somos e o que temos a oferecer. Você já percebeu que em cada início de amizade, flerte amoroso, e até mesmo nas entrevistas de emprego, estamos sempre “vendendo nossos pedaços”? Às vezes dá certo, às vezes não. O segredo é nunca perder o ânimo e partir para a próxima.
Não perca sua essência
No entanto, mesmo em meio a tantas “trocas”, alguns pedaços nunca deixam de ser verdadeiramente nossos. São os nossos valores e princípios. Esses pedaços jamais devem ser trocados, e muito menos vendidos. Eles nos acompanham em todos os momentos, sejam bons ou ruins, onde quer que estejamos. São como bússolas que apontam para onde devemos ir e como devemos agir, quando estamos perdidos.
Por isso, não tenha medo de juntar seus pedaços com os daqueles que estão ao seu redor. O que é seu de verdade, ninguém pode levar embora. No entanto, esteja aberto a viver amores sinceros, a oferecer uma palavra amiga, a compartilhar seus conhecimentos e também a receber de bom grado aquilo que os outros estiverem dispostos a lhe oferecer. É nesse processo de compartilhamento que nós, enquanto sociedade, ganhamos e nos fortalecemos cada vez mais.
Contudo, não se iluda: por mais que juntar seus pedaços com os de outro alguém seja maravilhoso, você não depende de ninguém para ser feliz. Aproveite a jornada, mas saiba que você já é um ser de luz, completo e feliz!
Que a reflexão acima tenha sido proveitosa para você. O que você acha dessa troca de pedaços que fazemos com as pessoas que passam por nossas vidas? Deixe seu comentário no espaço abaixo e não se esqueça de compartilhar este artigo com seus amigos, familiares, colegas, e todos aqueles a quem você ama.