O comportamento alimentar tem sido compreendido, cada vez mais, como um fenômeno multifatorial. Historicamente estudado pela nutrição e pela psicologia, ele envolve dimensões cognitivas, emocionais, socioculturais e sistêmicas.
O Modelo Transteórico de Mudança (MTT) oferece uma base sólida para entender os estágios da motivação na mudança de hábitos. No entanto, ele se limita à análise da prontidão comportamental, deixando de lado aspectos profundos como a subjetividade e a herança emocional.
Este artigo propõe uma integração inovadora entre o MTT e a Psicologia Marquesiana. Esta teoria descreve a mente como um sistema integrado por três centros de inteligência: Self Estratégico, Self Emocional e Self Guardião.
Argumentamos que a mudança alimentar sustentável exige não apenas motivação, mas também uma reorganização emocional profunda, a cura da criança ferida e a reconciliação com padrões sistêmicos herdados.
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O Desafio da Mudança Alimentar
As mudanças na alimentação são um dos grandes desafios da saúde pública. Apesar das estratégias de educação nutricional existentes, a motivação para manter hábitos saudáveis ainda é um obstáculo complexo.
O Modelo Transteórico de Mudança (MTT), criado por Prochaska e DiClemente, trouxe avanços ao propor que a mudança ocorre em estágios. Porém, o modelo não abrange elementos essenciais para o comportamento alimentar, tais como:
- Heranças emocionais;
- Dinâmicas transgeracionais;
- Padrões de proteção psíquica;
- Espiritualidade.
A Psicologia Marquesiana preenche essa lacuna através do modelo dos Três Selfs e da Lei da Emoção Dominante, integrando razão, emoção e o inconsciente protetor.
O Modelo Transteórico (MTT): Bases e Limitações
O MTT define cinco estágios principais para a mudança de comportamento:
- Pré-contemplação;
- Contemplação;
- Preparação;
- Ação;
- Manutenção.
Embora intervenções alinhadas a esses estágios aumentem a eficácia da mudança, o MTT opera principalmente no campo da ação consciente, ou seja, no Self Estratégico. Ele explora pouco os padrões emocionais arraigados, os mecanismos de proteção inconsciente e as heranças familiares que influenciam o comer.
Psicologia Marquesiana: Fundamentos para o Comportamento Alimentar
Conforme os princípios da Psicologia Marquesiana, a consciência humana opera através de três centros distintos:
- Self 1 (Estratégico/Razão): Responsável por metas, planejamento e decisões lógicas.
- Self 2 (Emocional/Alma Viva): Responsável por sentir, criar conexões e atribuir significado.
- Self 3 (Guardião/Proteção Subconsciente): Responsável por crenças profundas, padrões de sobrevivência e programas herdados.
Para que a mudança seja sustentável, é necessária a integração desses Selfs. Além disso, a teoria destaca três conceitos cruciais:
Emoção Dominante
A emoção que predomina no Self 2 governa o comportamento, muitas vezes superando a lógica do Self 1. Nenhuma mudança se sustenta sem a transformação desta emoção dominante.
Programas do Self Guardião
O Self 3 armazena padrões de proteção. Isso inclui padrões alimentares e crenças de escassez aprendidos na infância ou herdados de gerações anteriores, conhecidos na literatura sistêmica como “emaranhamentos”.
Reconciliação e Integração
A cura é vista como um processo de reconciliação interna. Isso ajuda a explicar recaídas e resistências que não são apenas cognitivas, mas emocionais e sistêmicas.
Pontes entre o Modelo Transteórico e a Psicologia Marquesiana
Podemos traçar correspondências diretas entre os estágios do MTT e os Selfs predominantes na psique humana:

Essa visão revela que a prontidão para mudança é, na verdade, um rearranjo interno dos Selfs.
Fatores Profundos no Comportamento Alimentar
A Psicologia Marquesiana expande a visão tradicional sobre as variáveis que afetam a alimentação:
A Criança Ferida
Comer em excesso ou restringir alimentos pode ser a expressão de memórias emocionais não resolvidas. São ativações do Self 2 que surgem quando o sistema interno está desregulado.
Lealdades Transgeracionais
Padrões alimentares podem representar fidelidade inconsciente a ancestrais que passaram fome (escassez), a reprodução de modelos dos pais ou tentativas de pertencimento. A Constelação Sistêmica Integrativa (CSI-M) identifica isso como programas de sobrevivência do Self Guardião.
O Poder da Emoção Dominante
Muitos indivíduos sabem o que devem comer (cognitivo), mas não conseguem agir. Isso ocorre porque a decisão não é racional, mas emocional. A emoção dominante sempre governa a decisão final.
Proposta de Modelo Integrado
A união do MTT com a Psicologia Marquesiana cria um arcabouço completo para intervenções. O modelo proposto inclui:
- Avaliação do estágio motivacional (MTT).
- Mapeamento dos Selfs predominantes.
- Identificação da emoção dominante.
- Mapeamento dos programas protetores do Self Guardião.
- Análise de fatores sistêmicos e transgeracionais.
- Intervenções alinhadas ao estágio com suporte emocional.
- Integração dos Selfs como meta terapêutica.
- Monitoramento de recaídas como um retorno do Self 3.
Este modelo favorece a adesão, reduz recaídas e incorpora o sentido existencial à mudança alimentar.
Discussão e Conclusão
Intervenções nutricionais falham quando ignoram a profundidade emocional. O MTT trouxe a estrutura do processo, mas a Psicologia Marquesiana oferece a profundidade necessária.
Nesta nova abordagem, o ato de comer deixa de ser apenas biológico e passa a ser entendido como uma reorganização do passado, uma expressão da emoção dominante e uma reconciliação sistêmica.
A integração entre o Modelo Transteórico e a Psicologia Marquesiana inaugura um modelo triplo: comportamental, emocional e sistêmico. É um paradigma que une ciência, psicologia e espiritualidade para promover a maturidade humana e a saúde integral.

Perguntas Frequentes (FAQ)
- O que é a integração proposta entre o Modelo Transteórico e a Psicologia Marquesiana?
É uma abordagem que une os estágios de mudança de comportamento do Modelo Transteórico (MTT) com a profundidade emocional e sistêmica da Psicologia Marquesiana. O objetivo é tratar o comportamento alimentar não apenas como uma escolha racional, mas como um processo que envolve emoções, heranças familiares e proteção subconsciente,.
- Quais são as limitações do Modelo Transteórico (MTT) isolado?
Embora eficaz para identificar a prontidão para a mudança, o MTT foca predominantemente na ação consciente e racional (Self Estratégico). Ele não aborda profundamente as heranças emocionais, dinâmicas transgeracionais e mecanismos de proteção inconsciente que sabotam a mudança de hábitos.
- Como a Emoção Dominante afeta a dieta e a alimentação?
Segundo José Roberto Marques, a emoção predominante no Self 2 governa as decisões e supera a lógica racional. Se a emoção dominante for de ansiedade ou escassez, por exemplo, a pessoa não conseguirá sustentar uma mudança alimentar apenas com força de vontade, pois o comportamento é regido pela emoção.
- O que significa o conceito de Criança Ferida no contexto alimentar? Refere-se a memórias emocionais não resolvidas da infância que são ativadas no presente. Comer em excesso ou restringir alimentos pode ser uma forma inconsciente de lidar com dores antigas ou desregulações emocionais do Self 2.

