“As ordens do Amor” é um dos mais preciosos escritos de Bert Hellinger, que nos ajuda a entender como o amor funciona em profundidade. Uma das lições mais importantes é entender que o ideal não é “amar demais”, de forma desmedida, mas amar de forma correta e madura. É amar compreendendo os caminhos da vida e os destinos de cada um.

Nossos laços familiares são laços de amor. Muitas vezes um amor que não cultivamos no dia a dia, um amor que nos esquecemos, que parece ser tão normal que não carece de atenção e cuidado. Acabamos então não mensurando a força e o tamanho desse amor, até que uma situação de sofrimento aconteça.

As situações de sofrimento têm o poder de despertar em nós a força do amor naturalizado. É muitas vezes em uma situação de eminência de morte, como uma doença muito grave ou um acidente quase fatal, que descobrimos quão grande é o amor que temos por uma pessoa, em especial, da nossa família.

Pode ser que nessas situações extremas tenhamos inclusive o impulso de oferecer nossa vida em favor da vida da outra pessoa. Nosso amor, então, começa a ultrapassar a barreira da compreensão. Nos vemos em situação extrema, por perceber que “amamos demais”. Esse amor começa a nos colocar em risco e suas consequências podem ser muito trágicas. Esse amor é “cego”, porque não consegue ver além de si mesmo.

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Os ensinamentos de Constelação Familiar tratam o amor cego a partir da criança. A criança, pela sua imaturidade emocional e pelos poucos recursos racionais, tende, realmente, a demonstrar um amor de forma mais ingênua e, portanto, torna-se mais vulnerável a questões que envolvem a morte e grandes sofrimentos, mas o amor cego, como forma de um amor imaturo, não é uma exclusividade das crianças. Ao contrário, ele nos acompanha na idade adulta e precisa ser tratado.

O amor cego é um amor que adoece, pois ele inflige o autossacrifício: “Antes eu morrer do que você”;

PSC

“Se você morrer eu morro junto”;

“Depois da morte/doença de minha mãe minha vida acabou”.

Esses são dizeres muito comuns de quem ama cegamente. É claro que queremos e devemos fazer o possível para cuidar de quem amamos. Fazemos grandes sacrifícios para que nosso pai ou mãe que sofre tenham o máximo de bem-estar, mesmo frente a uma doença terminal. Contudo, se para isso deixamos de nos alimentar, deixamos de ir ao trabalho ou tomamos outra decisão impulsiva, em nome desse amor, lidamos com um amor inconsequente.

Uma pessoa que, para cuidar de outra, deixa ou esquece de se alimentar, adoecerá. Uma pessoa que perde outra, seja por abandono ou por falecimento, e, por isso, vê se esvair o brilho da felicidade, também adoecerá. É dessas consequências do amor cego que falamos. Amar cegamente é um caminho para o adoecimento.

Em contraponto ao “amor cego”, Hellinger identifica o “amor ciente”. O amor ciente exige de nós muita maturidade e, principalmente, uma compreensão profunda sobre o que é a vida. Sobre como os destinos precisam ser acolhidos, e sobre como nossos laços precisam ser compreendidos.

Quando alguém diz “quero morrer no seu lugar”, isso causa sofrimento também em quem está doente, essa pessoa passa a sofrer com sua situação e a se preocupar com a situação do outro. Assim o sofrimento se duplica, somado à preocupação com os demais. O adoecimento alcança a todos da família.

O amor ciente entende a dor e o sofrimento de todas as pessoas, mas entende o lugar e o papel de cada um dentro do sistema. Uma mãe que sofre de câncer precisa do amor de seus filhos, sabe que seus filhos sofrerão, mas não deseja que eles se sacrifiquem. Sacrificar-se no lugar o outro é não entender que cada um é capaz de suportar o seu próprio destino.

“eu sofro contigo porque te amo. Te ajudarei e auxiliarei, mas compreendo e aceito os desígnios da vida. Sou grato ao universo pela sua existência, o tempo que lhe for permitido.”

O amor ciente não aumenta o sofrimento, pois ele reconhece que nada pode fazer além ter fé, amar e cuidar. O amor ciente enxerga para além da situação presente, ele vê as consequências de atos desmedidos que nada tem a ver com o amor verdadeiro.

Um dos problemas do amor cego é que ele não respeita a individualidade, os caminhos de cada ser. Quando amamos cegamente queremos sempre ter o controle e o poder sobre as coisas, como se pudéssemos decidir sobre os destinos de todos, dizendo o que é justo ou não.

Sempre que questionamos uma situação nos tornamos egoístas e atrapalhamos a “ordem” do amor. Amar envolve aceitação e compreensão. Envolve abrirmos mão do controle que supostamente temos.

Não podemos, por exemplo, escolher amar apenas a parte boa de alguém.

Se, quando amamos, negamos as sombras de uma pessoa e seus pontos de melhoria, esse amor não é verdadeiro. Ele é parcial e, por isso, cego. É mais uma vez nossa necessidade de ter controle.

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A cura pelo amor está ligada ao nosso nível de consciência sobre o que é o amor. O amor é também aceitar que o outro morra, que o outro adoeça. Como filhos, aceitarmos a finitude dos nossos pais, ou aceitarmos que a ordem da vida é estabelecida pela própria vida e não pelo que supomos ser natural.

Quando uma mãe vê um filho ser sepultados, dizemos que o sofrimento é tamanho porque a “ordem natural da vida não foi respeitada”, aceitando que a suposta ordem natural da vida é que os mais velhos morram antes dos mais velhos. Mas quem determina a ordem da vida é a própria vida, e quando amamos somos capazes de reconhecer, aceitar e transmutar essa ordem.

Não podemos salvar os outros, cada um deve ser capaz de suportar o seu destino. Embora nosso amor deva ser o suficiente para fazer com que cada um viva em sintonia com esse que é o maior sentimento do mundo. O amor cura quando ele é capaz de confortar e compreender, e ele adoece quando não aceita os caminhos da vida e tenta mudá-los, acreditando que tem o controle sobre eles.

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