Felicidade

Surkov Vladimir/Shutterstock A qualidade de vida de uma pessoa ou nação pode ser medida por seu índice de felicidade

“Brasil é o décimo país mais feliz do mundo”, dizia a notícia de um site. “Venezuela cria vice-ministério da suprema felicidade social”, “Recomendada pela ONU, busca da felicidade pode fazer parte da Constituição brasileira”, diziam outras duas notícias tempos atrás.

Esse texto faz eco àqueles que você já leu no início deste artigo, mas faço questão de abrir essa seção enfatizando que o que estamos falando é algo bastante sério e atual. A felicidade está na moda! Daí você me questiona: mas como medir a felicidade de alguém? Como já discutimos, a felicidade é um dos conceitos mais subjetivos entre todos que são trabalhados na Antropologia, Sociologia e Psicologia, logo, apenas o próprio sujeito pode dizer se se sente ou não feliz.

Partindo desse pressuposto, a pesquisa se baseou em entrevistas fechadas, com perguntas direcionadas, em que o entrevistado pode responder apenas sim ou não. Dos resultados dessas entrevistas foi feito o cálculo que gera os índices que vemos em pesquisas por ai.

Os Índices de Felicidade

Importante lembrar que outros institutos no mundo tam­bém realizam pesquisas como essas. Em uma delas, de 2012, o Brasil ocupava o 4º lugar entre as nações mais felizes do mundo. Eu me pergunto, por exemplo, como a França pode ter um índice tão baixo.

Quem não gostaria de morar em Paris? Todos nós cresce­mos pensando que não há lugar mais bonito, romântico, civili­zado… Enfim! A França é um modelo. Mas a felicidade de um turista que visita Paris está atrelada a fatores como a realização de um sonho, que dificilmente estará presente no subjetivo de um parisiense.

Em todo caso, as empresas internacionais não investiriam em uma pesquisa que mede a felicidade, entrevistando dezenas de milhares de pessoas, se esta não fosse uma questão de importância crucial. A Organização das Nações Unidas tem orientado as nações no sentido de que a busca da felicidade deve ser um dos objetivos fundamentais do homem.

O Caso da Venezuela e seu Ministério da Felicidade

A Venezuela é um país em franca guerra civil e militar, com uma economia em declínio e sérios problemas sociais. O ícone político do país, Hugo Cháves, faleceu e seu sucessor direto, Nicolás Maduro, foi eleito presidente. Entre suas primeiras medidas governamentais esteve à implantação do “Vice- Ministério da Suprema Felicidade do Povo Venezuelano”, que tem como objetivo coordenar os programas sociais do governo, chamados de “missões”.

Longe de adentrar as questões político-econômicas, que­ro destacar que um ministério, ou vice-ministério, nesse caso, é um alto posto da instância administrativa de um país. Se uma nação tem um ministério da indústria, é porque ela é importante na en­grenagem econômica. Se há um ministério da igualdade racial, é porque essa questão está constituída numa esfera importante para essa nação. Se um país estabelece um ministério para a busca da felicidade, igualmente percebemos que esse assunto se torna não apenas importante, mas alça uma esfera maior, a esfera da administração nacional.

Aqui no Brasil, um senador da república apresentou uma emenda constitucional que pretende acrescentar a felicidade na lista dos direitos sociais previstos no Artigo 6º da Constituição. O autor da emenda argumenta que não se resume a incluir a palavra “felicidade” à Constituição.

Ele destaca que o Estado deve propi­ciar ao cidadão direitos sociais que lhe proporcionem bem-estar, que, por conseguinte, levem à felicidade: “Todo mundo tem que ter o direito de buscar a felicidade. Essa busca da felicidade é atra­palhada ou facilitada, pelo Estado, pelo governo”.

Pensando nessa situação não deixo de recorrer ao modelo bioecológico de Bronfenbrenner. As instâncias governamentais estão alocadas no exossistema. Essas instâncias incidem indire­tamente sobre o indivíduo, uma vez que elas regulamentam toda vida em sociedade.

O que é importante perceber, tanto no caso da Venezuela quanto no caso do Brasil, é que começamos a chegar numa consciência de que todas as instâncias da nossa vida – ou todos os sistemas do modelo bioecológico – contribuem para o alcance da nossa felicidade.

A resolução da ONU, que serve como base para propostas como as do Brasil e da Venezuela vão no sentido de que mes­mo sendo a felicidade algo subjetivo ela não é completamente individual, de modo que os governos devem se esforçar por promover políticas públicas que visem o alcance da felicidade por todos.

Impossível é não se questionar se, no que tange a essas políticas públicas que nos ajudam a caminhar em di­reção à felicidade, queremos dizer apenas sobre os benefícios assistenciais dados pelos governos. De algum modo sim, mas é fato que a felicidade para quem tem muito pouco é ter algu­ma coisa, o que faz bastante sentido na questão materialista do assunto.

A Ciência da Felicidade

Evidentemente a ciência também se interessaria por um assunto tão “na moda” quanto esse. Em 2011, cientistas dis­seram ter descoberto o “gene da felicidade”. Para chegarem à conclusão, os cientistas perguntaram a mais de 2.500 pes­soas nos Estados Unidos sobre quão satisfeitas elas estavam com sua vida.

O DNA dos indivíduos foi então analisado para verificar a presença do tal gene. Segundo estudos anteri­ores, aqueles com nível baixo de serotonina, também chama­da de “droga da felicidade”, têm mais riscos de desenvolver depressão. Agora, os especialistas da Escola de Economia e Ciência Política de Londres encontraram provas de que pes­soas com a variante funcional do 5-HTT têm mais chances de terem vidas mais felizes.