O ser humano, em sua existência, é uma experiência e é também uma consciência. Essa última se caracteriza por ser transcendental, ou seja, ela transcende nossa própria natureza humana. Assim, como humanos, temos a incumbência de compreender e ensinar que estamos ligados a uma espiritualidade que também nos constitui, é parte de nós.
Nós precisamos, urgentemente, criar uma nova visão de nós mesmos, de quem nós somos, de por que estamos aqui e, consequentemente, a visão que temos do mundo. Uma das grandes dificuldades dessa mudança de visão é o fato de que o ocidente criou uma cultura desconfiada no que concerne à experiência subjetiva e sensível do ser humano, privilegiando sempre as soluções racionalistas, pragmáticas e superficiais.
Essa consciência superficial racionalista, reducionista, supõe que nossa consciência, ou nosso mundo interior, está desassociado da nossa realidade externa. A forma predominante desse modelo de crenças baseia-se na experimentação empírica por meio de medições e aferições que acabam se sobrepondo a outras formas de conhecimento.
É o domínio total do Self 1. Nesse caso, há uma tendência a se reduzirem todos os fenômenos a um sistema mecânico, de causa e efeito, que possa explicar a realidade. Dessa maneira, sensações, pensamentos e sentimentos, como o amor, são reduzidos a simples mecanismos de reações físico-químicas em nosso sistema cérebro-corpo. Esse modelo de conhecimento procura impor-nos que somos mesmo uma máquina, ou algo muito parecido, que reduz o ser humano a um fenômeno restrito às leis naturais fixas.
Esse mundo subjetivo, indubitavelmente, não pode ser demonstrado cientificamente, pois nosso mecanismo psíquico não é passível de análises laboratoriais e muito menos de uma reprodução fenomenológica que possa ser abordada pela metodologia científica, sendo que podemos, no máximo, fazer considerações tangenciais e indiretas a respeito de sua natureza.
É nesse mundo interior, transcendente, que encontramos nossa essência, nossa missão de vida, nossa razão de ser e nossa melhor parte. Lá, encontramos os elementos para definir nosso propósito de vida e entender nossa missão. Quatro grandes áreas sempre se ocuparam em dar respostas a essas questões existenciais, como “quem sou eu e qual minha missão de vida”. São elas: Ciência, religião, Arte e Filosofia.
Mais Do que Viver, Existir!
Dentre essas, a ciência deteve-se no “como” as coisas surgiram, procurando uma resposta originalística, funcionalística, enquanto as demais procuram os porquês. Todo esse movimento tinha/tem o único propósito de atribuir significado à nossa existência e, como não poderia deixar de ser, não foi encontrado apenas um significado, mas tantos quantos foram (e são) as cabeças pensantes. No entanto, já diz um adágio popular que “a vida não tem sentido nenhum, mas não é proibido dar-lhe alguns.”.
A grande verdade é que além de não podermos atribuir um único sentido à vida, nossa natureza mutante e sempre em formação também está suscetível ao tempo, de modo que o sentido da vida muda conforme os momentos específicos da nossa existência. O sentido maior da nossa vida, em uma determinada fase, pode ter sido fazer uma faculdade, encontrar urgentemente um amor, cuidar dos filhos, lutar por uma causa política ou social ou mesmo um drama familiar, encontrar Deus… Mas o sentido da vida pode ser simplesmente viver.
Coaching e Vida
A vida, para o Coaching, é um projeto individual em que cada um constrói uma história que, pretende-se, seja de crescimento e aprendizado. Logo, a forma mais curta de encontrar o sentido da nossa vida é o autoconhecimento. Se perguntarmos para dez pessoas como chegar ao autoconhecimento, certamente, nós ouviremos dez respostas diferentes. Cada uma tem a sua. Eu também tenho a minha. Na verdade, tenho duas. Digo em primeiro lugar que autoconhecimento é um tempo para não fazer nada. Isso mesmo, não fazer nada.
Não é sentar na varanda para ler um livro, é simplesmente sentar na varanda. Não é ver um documentário na Tv, é só zapear os canais sem prestar atenção em nada. Não é conhecer uma pessoa para fazer networking, é só dizer bom dia e “prosear” sobre o dia, o tempo, o bolo de milho, e assim por diante… É estar com você mesmo, sem subterfúgios, sem performances sociais, sem interesse algum.
Como é difícil “não fazer nada” enquanto meu concorrente planeja uma campanha de vendas “destruidora”; como é difícil jogar conversa fora enquanto meu departamento de vendas não bate a meta! Mas é preciso compreender que toda essa agitação nos conduz a uma vida artificial e obscura.
Coaching é um retorno para o interno. Mas não é à toa. Esperamos que essa volta ao que está dentro torne o que está fora mais coerente, mais cheio de significado. O homem não pode suportar uma vida sem significado. Mas, atribuir significados e ter determinadas respostas: não são as mesmas coisas.
Às vezes, também não é necessário ter resposta para tudo. A própria senhora ciência vive da dúvida. Nós podemos também viver sem as respostas, apenas na fruição da beleza, nas sensações que nós temos, que também geram o autoconhecimento – ao menos até o ponto mais importante, às margens do ponto em que podemos conhecer.
No processo de Coaching, compreendemos que o ser humano não é o corpo. Ele possui um corpo, cuida do corpo, cultiva o corpo, mas não é o corpo. “O ser humano é um projeto infinito” que está para além do que materialmente podemos identificar. Essa compreensão nos faz trabalhar sempre no sentido do desenvolvimento das pessoas, pois nossa natureza só se dá a conhecer numa ínfima parte.
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