Xingamentos no trânsito, agressões físicas e vontade de destruir a mesa de trabalho sempre que algo não sai do jeito que você esperava. Você já passou por algum desses momentos? Esse tipo de comportamento pode ser sinal da chamada “síndrome do pavio curto”, o nome popular do Transtorno Explosivo Intermitente (TEI).
Esse distúrbio pode aparecer em qualquer idade, mas é mais frequente nos homens em idade adulta. Naturalmente, ele leva a atitudes de maior agressividade, que se convertem em diversos problemas, tanto em sua vida pessoal como em sua vida profissional. Para saber mais sobre este transtorno, continue a leitura do artigo a seguir.
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Como a síndrome do pavio curto se desenvolve?
Este problema apresenta causas biológicas, mas também tem profunda ligação com o meio em que a pessoa vive. Se a criança, por exemplo, cresce numa casa em que os pais se agridem, ela tem maior chance de desenvolver esse transtorno. Na infância, o problema já pode dar os seus primeiros sinais, que geralmente são confundidos com birras infantis.
Por isso, diz-se que o TEI é uma doença transgeracional, em que o comportamento agressivo é aprendido, por meio da observação e da imitação. Assim, a criança reproduz as atitudes que ela observava nos pais ou nos irmãos, por exemplo.
Na adolescência e no inicio da idade adulta, espera-se que o indivíduo já tenha aprendido a lidar melhor com as frustrações da vida. No portador de TEI, no entanto, essa capacidade não foi adequadamente desenvolvida, de modo que as explosões de raiva continuam, podendo até mesmo tornar-se cada vez mais graves.
No ápice da idade adulta, ocorre também o ponto mais crítico do problema. Por volta dos 30 anos, quando indivíduo está em um momento altamente produtivo, mas também altamente estressante, os ataques de fúria podem ocorrer. Seja no trânsito, no trabalho, ou mesmo dentro de casa, a TEI mostra os seus sintomas.
Já idoso, o indivíduo com TEI tende a ter uma redução dos sintomas, pois já não há mais tantas cobranças a seu respeito. Além disso, é natural que as pessoas nessa idade queiram isolar-se um pouco para amenizar as consequências desse transtorno emocional.
Quais são as consequências do problema na vida pessoal e na vida profissional?
Em primeiro lugar, é importante ressaltar que nem toda pessoa que desenvolve esse transtorno o identifica como um problema. É bastante comum as pessoas referirem aos episódios como um traço de sua personalidade, e não como uma doença. Por isso, o primeiro desafio é fazer com que a pessoa perceba que aquele comportamento é emocionalmente desproporcional aos acontecimentos.
Palavras e atitudes ditas no calor do momento podem magoar as pessoas que convivem com a pessoa, especialmente os familiares e os amigos. Não é raro, portanto, que as pessoas com TEI passem por separações em relacionamentos amorosos e também que se envolvam em problemas com a justiça — brigas de trânsito e de bar são relativamente comuns para os indivíduos nessas condições.
Em âmbito profissional, as consequências também são graves. Em descontrole emocional, o indivíduo pode destruir o clima da equipe em que trabalha ao levantar a voz para os seus colegas e chefes. Fica difícil conversar, trabalhar e conviver com pessoas assim. Até mesmo clientes de empresas, em alguns casos, tornam-se vítimas dessas pessoas agressivas.
Naturalmente, ninguém deseja conviver ou trabalhar com pessoas com esse comportamento. Por isso, são indivíduos que pulam de emprego em emprego, sem alcançarem estabilidade e passando por sucessivas contratações e demissões.
Explosões de raiva sempre indicam TEI?
É importante ressaltar, porém, que nem toda pessoa que tem um episódio isolado de raiva está automaticamente diagnosticada com TEI. Qualquer pessoa provavelmente já passou por um momento de raiva, em que quebrou algo ou xingou alguém diante de uma fechada no trânsito. No entanto, o quadro de TEI é algo mais complexo.
Segundo os especialistas, é preciso que haja recorrência nesses episódios, e não um ato isolado. Além disso, o quadro de TEI é caracterizado pela desproporcionalidade entre o fator desencadeante e a resposta emocional do indivíduo.
Os relatos médicos apontam que as pessoas com TEI têm sintomas específicos durante as explosões de raiva, como: pensamentos raivosos, apertos no peito, palpitações e sudorese. O indivíduo até percebe que a explosão de raiva está para acontecer, mas não consegue evitá-la. As explosões geralmente não duram mais do que alguns minutos. Logo após o término, é comum que a pessoa tenha até certa sensação de alívio, mas o arrependimento vem logo em seguida.
Além disso, também é necessário citar que a agressividade pode ser sintoma de outros transtornos da mente, que não o TEI. É o caso do transtorno de personalidade borderline, da síndrome de burnout, do transtorno afetivo bipolar, do transtorno do déficit de atenção com hiperatividade e do transtorno do espectro autista. Até mesmo condições como o Alzheimer e o traumatismo craniano podem ter a irritabilidade como um dos seus sintomas. Apenas o médico poderá fazer o diagnóstico diferencial.
Como tratar a condição?
Alguns estudos realizados em diferentes países estimam que a síndrome do pavio curto possa acometer entre 4% e 6% da população. A boa notícia é que existe tratamento para a condição.
O principal tratamento existente na atualidade é a psicoterapia, sobretudo por meio da TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental). As sessões da TCC são importantes para que o indivíduo identifique os gatilhos para as suas explosões de raiva, desenvolva habilidades sociais, aprenda técnicas de relaxamento, desenvolva meios de resistir aos impulsos agressivos e consiga lidar de forma mais adequada com os agentes estressores.
Há, também, o tratamento medicamentoso, mas ele não é necessário em todos os casos. Cabe ao médico psiquiatra dizer se é preciso ou não tomar a medicação e qual opção é a mais indicada. Em geral, são utilizados medicamentos antidepressivos, benzodiazepínicos e estabilizadores de humor.
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Imagem: Por Master1305