Amor e perdão são sentimentos que devem caminhar juntos. Por isso, enquanto você culpar a si mesmo e, principalmente, a sua família pelo que você é ou pelo que você não conseguiu ser, a sua vida não terá um horizonte. Ter um norte na vida é olhar para longe e voar para esse lugar. É o estado desejado, a meta, o sonho, é qualquer lugar em que você queira chegar. A culpa e o rancor, porém, deixam a sua bagagem pesada demais, e essa bagagem impede o voo.
Neste artigo, vamos compreender melhor a essência de conceitos como o amor, o perdão e a ressignificação. Vamos entender também como eles se influenciam mutuamente e como podem beneficiar os nossos caminhos rumo à felicidade. Continue a leitura e saiba mais!
Uma história para ressignificar
Um rapaz muito jovem, funcionário de uma empresa para a qual eu prestava consultoria, me procurou uma vez para conversar sobre algo que, para ele, era o motivo de todo o sofrimento que ele julgava ter.
Ele me contou que seu avô era alguém de muitas posses. Tinha uma empresa de táxis, com a qual fez fortuna. Quando ele se juntou à sua avó, ele era separado, mas não divorciado. Teve com ela 4 filhos, somados a mais 4 do primeiro casamento.
Com o passar o tempo, seu avô viciou-se em álcool e, aos poucos, perdeu tudo o que tinha. Sua mãe, ainda jovem, aproveitou um tempo de riqueza e boa vida, mas, logo cedo, por volta dos seus 16 anos, ela se viu obrigada a trabalhar com os irmãos para, juntos, sustentarem a casa.
A frota de carros desapareceu, e as casas foram vendidas. Seu avô morreu, e o pouco de patrimônio que tinham foi herdado pela esposa legítima, já que os primeiros bens haviam sido registrados no nome dela. A primeira família conseguiu alguma coisa, mas a família da mãe dele, nada! Sua avó também se foi.
Ele nasceu anos mais tarde. Acontece que sua mãe não aceitava os rumos que a vida tomou e, sempre que podia, contava aos filhos sobre a vida de luxo e riqueza que eles não puderam viver.
O rapaz, então, cresceu alimentando uma raiva incompreensível do avô que ele sequer conheceu. Ele o culpava por ter que trabalhar duro para ter uma vida modesta — digna, mas sem o conforto com o qual ele sonhava. Sem perdoar o avô e alimentando a angústia da mãe, ele lutava para não começar o mesmo vício que fez seu avô sucumbir, a fim de não repetir o ciclo familiar.
Querida pessoa, ser filho significa pertencer. Para pertencer, é preciso amar, e, para amar, é preciso perdoar, em nome das relações sistêmicas que nos afetam e que também afetamos. Perdoar, portanto, é um ato de pertencer. Todavia, só é possível perdoar quando temos um sentimento forte de pertencimento. Caso esse sentimento de pertencimento não exista, o perdão se torna inútil, ineficaz e sem sentido. O perdão, a partir do pertencimento, se torna amor.
O amor e o perdão nesse processo
O amor é o elo de um relacionamento. Mesmo a amizade é também uma forma de amor. Quando esse amor é abalado, o relacionamento se rompe. Isso acontece em todas as formas de relações humanas, inclusive no nosso relacionamento interior. O perdão age para restabelecer o relacionamento abalado. Perdoar a si mesmo, portanto, é voltar a encontrar-se, é nutrir amor por quem você é.
Quando um filho se culpa pela separação dos seus pais, por exemplo, a sua autoimagem se distorce, e ele passa a acreditar que é alguém ruim e que não merece viver. Perdoar a si mesmo da culpa que carrega é reestruturar-se emocionalmente, encontrando a paz e a motivação.
Perdoar o outro é, muitas vezes, também perdoar a si mesmo. Perdoamos não apenas para que as relações voltem a existir, mas para que o peso do rancor não nos afogue em um mar de lágrimas. O perdão liberta o outro e nos libera da negatividade.
Quantas mágoas nós não nutrimos por nossa família? Quantas crenças danosas nós alimentamos contra nossa mãe, pai e irmãos? Até por familiares que não conhecemos, que morreram antes de nós, costumamos acusar e culpar por uma série de coisas.
Sua mãe foi/é um ser humano e, dessa forma, tinha direito ao erro. Ela foi a mãe possível com os recursos que ela tinha. Seu pai pode ter magoado você, ou mesmo o abandonado, mas ele fez o que era possível de ser feito. O perdão é também reconhecer que não somos bons, somos bons o suficiente.
Quando você disser ou ouvir: “não acredito que fiz isso!” ou “não acredito que você fez isso!”, pense que essas expressões não fazem sentido. Todos nós estamos sujeitos a falhas. Aceitemos isso para seguir adiante. E, se algo inesperado aconteceu, perdoemos para não carregarmos um peso que não nos edifica. Todos nós erramos e somos capazes de fazer sofrer até as pessoas que mais amamos. Por isso, o perdão nos ajuda a lançar sobre as situações um novo significado, ou seja, favorece a ressignificação.
O meu processo de ressignificação
Em 2004, me deparei com uma situação muito difícil na minha vida. Estava na UTI de um hospital, correndo risco de morte. Lá, vivi uma experiência diferente de tudo o que já havia experimentado. Eu sabia que havia muitas coisas que eu precisava terminar: questões pendentes, relacionamentos mal resolvidos, pessoas que precisava perdoar e não conseguia, e por aí vai. Havia também pessoas para quem eu precisava pedir perdão, mas não tinha forças.
Foi uma experiência realmente espiritual. Uma experiência que apenas o corpo físico, ou a física como ciência, não é capaz de explicar. Uma experiência que me fez ter certeza da conexão entre mim, minha família, as pessoas que me cercavam e o mundo em que eu vivia. Eu tinha culpa e não podia morrer com tudo aquilo dentro de mim. Aquele momento foi de grande virada na minha existência. Se você não teve, ainda terá o seu. E não precisa ser na UTI de um hospital!
Quero que você sempre releia este artigo como uma catarse profunda. Como uma forma de encontrar-se consigo mesmo e com o seu sistema familiar. Eu acredito verdadeiramente que será uma leitura transformadora. Acredito verdadeiramente que você pode encontrar as suas curas pelos sistemas de pertencimento nesse mundo.
Paz e luz.
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