Muitas dietas restritivas têm entrado em moda no Brasil e no mundo. Entre elas, destaca-se o jejum intermitente, caracterizado por longas horas de restrição alimentar, com o objetivo de perder peso e até de promover mais saúde e qualidade de vida. Mas será que isso funciona mesmo?
Em 2016, o biólogo japonês Yoshinori Ohsumi venceu o prêmio Nobel de medicina em razão do seu trabalho para explicar o processo de autofagia, quando as células destroem a si mesmas e eliminam tecidos não saudáveis, o que é intensificado quando as pessoas ficam horas sem comer.
Mas será que isso funciona mesmo? Continue a leitura a seguir para compreender melhor o que dizem os cientistas!
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O processo de autofagia
O processo de autofagia foi descoberto nos anos 1960. Dentro das células, são identificadas estruturas que apresentam algum mau funcionamento, sendo reconhecidas como um material a ser digerido.
Esse material é encapsulado por uma membrana e é levado a uma estrutura celular chamada lisossomo. Dentro do lisossomo, o material é eliminado do organismo.
O processo de autofagia é muito importante para que a célula consiga se livrar de materiais problemáticos, sem que ela tenha que se destruir por inteira. É como se ela conseguisse selecionar o que não está funcionando como deveria e fizesse uma digestão de parte de si mesma.
Dessa forma, as células do nosso organismo conseguem funcionar com mais qualidade. Elas se tornam capazes de prevenir ou tratar de maneira mais eficaz doenças neurodegenerativas, processos cancerígenos, quadros infecciosos, diabetes tipo 2, entre outros. É por isso que a longevidade humana tem sido associada a esse processo.
Em organismos desnutridos, a autofagia é um mecanismo para garantir a sobrevivência do ser, pois possibilita que a célula reorganize a distribuição dos nutrientes para atividades consideradas essenciais.
Assim, as estruturas celulares desgastadas ou envelhecidas são destruídas, mantendo dentro das células apenas os materiais saudáveis, que executam funções fundamentais para a manutenção da vida.
Os estudos de Yoshinori Ohsumi
Por mais que a autofagia já fosse conhecida desde os anos 1960, não se sabia exatamente como esse processo se dava e quais eram os genes associados a ele. Foi então que, no início dos anos 1990, Yoshinori Ohsumi se debruçou sobre o tema para compreendê-lo em maior profundidade.
Para isso, ele conduziu uma sequência de experimentos com levedura, um tipo de fungo unicelular. Assim, o cientista conseguiu analisar melhor os mecanismos da autofagia na levedura e descobriu que um mecanismo muito semelhante ocorre nas células humanas.
Além de desvendar o mecanismo de reciclagem pelo qual as células digerem partes de si mesmas, o biólogo ainda descobriu diversas proteínas e 15 genes associados a esse processo.
Segundo cientistas brasileiros, a descoberta de Ohsumi representa uma enorme contribuição para a medicina. A detecção dos genes associados abre possibilidades para manipular o processo de autofagia e tratar ou controlar doenças até hoje consideradas incuráveis, como o Parkinson e o Alzheimer. Isso pode fazer com que os pacientes desses quadros possam sobreviver por mais tempo, com menos danos cerebrais.
De acordo com o vencedor do prêmio Nobel, a prática do jejum potencializa a autofagia, fazendo com que o organismo “recicle” a si mesmo e possa aumentar a sua longevidade.
Benefícios da autofagia
A autofagia é um mecanismo crucial de autolimpeza, presente em todas as células do nosso organismo. A diminuição desse processo resulta em um acumulado de componentes danificados dentro da célula, o que pode levar à morte celular e ao surgimento de diversas doenças. Portanto, manter esse processo ativo pode ser uma forma eficaz de prevenção.
As descobertas de Ohsumi elucidaram a importância da autofagia em processos como a adaptação à fome e a resposta a infecções. Esse sistema está envolvido em várias funções orgânicas, incluindo o desenvolvimento embrionário e o combate ao câncer e às doenças neurológicas.
Deficiências no mecanismo de autofagia estão associadas ao aparecimento de doenças como Parkinson, diabetes tipo 2 e outras condições relacionadas ao envelhecimento. Além disso, mutações nos genes que regulam a autofagia também podem resultar em problemas de saúde.
A esse respeito, diversos estudos têm indicado que a autofagia pode ser uma estratégia de proteção do sistema nervoso, especialmente no envelhecimento e em doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.
Afinal, quem faz jejum vive por mais tempo?
De acordo com Ohsumi, a restrição alimentar, ou seja, um jejum prolongado, estimula o processo de autofagia. No entanto, os cientistas são unânimes ao afirmar que muitos cuidados precisam ser tomados nesse sentido, afinal de contas, novas pesquisas devem ser feitas para que se chegue a um padrão de jejum considerado saudável.
“A autofagia não fica ativa o tempo todo. Mas a restrição de nutrientes é uma forma de burlar isso”, disse Luciana Gomes, pesquisadora do Laboratório de Reparo de DNA da USP.
Quando as pessoas ficam algum tempo sem se alimentarem, as células iniciam esse processo de digerirem a si mesmas. As células “comem” a si mesmas para sobreviverem.
“O jejum induz a autofagia, isso é sabido. Também sabemos que a autofagia induz a longevidade. A busca agora é entender a conexão entre a autofagia ativada pelo jejum e a longevidade das células”, disse Soraya Smaili, professora da Escola Paulista de Medicina.
Ainda de acordo com os cientistas, porém, a restrição de nutrientes não pode ser muito longa. Se isso acontecer, as células começam a digerir não apenas as suas partes problemáticas, como também os seus componentes saudáveis, o que passa a ser mais nocivo para a saúde do que benéfico.
É por isso que a comunidade científica cita esse valor de aproximadamente 12 horas sem alimentação, embora essa ainda não seja uma medida oficial. Além disso, os cientistas citam que qualquer jejum deve ser praticado apenas sob supervisão médica. Quem tem algum problema de saúde pode ficar enfraquecido diante de restrições alimentares prolongadas.
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