Bert Hellinger foi um psicoterapeuta alemão que consolidou as chamadas “constelações sistêmicas” ou “constelações familiares” como sistemas terapêuticos para compreender e melhorar as dinâmicas dentro das relações familiares. Nesse contexto, ele desenvolveu o que chamou de “5 ordens do amor”, ou seja, 5 recomendações para que as relações entre os seres humanos pudessem ser as melhores possíveis.

Naturalmente, boa parte do seu trabalho pode ser aplicada especificamente às relações entre pais e filhos. Segundo Hellinger, o amor é importante nessa relação, mas, sem a ordem, ele não impede que dinâmicas disfuncionais surjam no seio familiar. Por isso, o amor e a ordem são duas forças complementares necessárias para que a vida seja bem-sucedida. Confira quais são essas 5 ordens do amor na sequência!

Os pais, em comunhão e unindo os seus desejos, decidem dar vida a um novo ser, isto é, a um filho. São dois seres que criam um novo ser, sem nada acrescentar ou extrair de si mesmos. Por isso, é essencial, para haver amor, que os pais aceitem os filhos como eles são e também que os filhos aceitem os pais como eles são.

Se os pais fossem diferentes, os filhos também seriam diferentes, tornando-se outras pessoas. Portanto, cabe a cada indivíduo honrar a própria história e a própria origem, sem desejar que fossem diferentes. Imaginar outras possibilidades não passa de pura ilusão, lembrando que a vida não é feita de “e se…”.

Esse processo de aceitação é primordial para que pais e filhos respeitem a individualidade de cada um. Por mais que laços de amor os unam, são seres independentes. Isso ameniza a criação de expectativas que surgem, tanto em relação aos nossos pais, como em relação aos nossos filhos.

Essa aceitação dos pais e filhos estende-se à própria aceitação da vida como ela é: feita de altos e baixos e composta por pessoas totalmente diferentes entre si. Mesmo em meio a tantas limitações e oportunidades, aquele que simplesmente aceita o caminho que se abre à sua frente encontra mais paz.

Por outro lado, sempre há pessoas que insistem em imaginar ou até mesmo em dizer frases do tipo: “Como eu queria que a minha vida fosse diferente” ou “Como eu gostaria que meus pais fossem outros”. Bem, a vida não é perfeita, e os seus pais também não o são. Ainda assim, a aceitação é o melhor caminho, já que há coisas que simplesmente não dependem da nossa vontade.

Quem pensa dessa forma está sempre se iludindo e, com alguma frequência, se esquecendo de viver a realidade. Não podemos escolher apenas a parte boa da vida ou dos nossos pais. Ou os aceitamos na totalidade, ou vivemos com medo e com o vazio da incompreensão. Já chegamos ao mundo em uma família repleta de vivências e histórias e precisamos aceitar isso.

  • Os filhos tomam o que seus pais dão, para além da vida como ela é

Desde a primeira infância, os filhos recebem dos pais o que lhes é necessário para viver (e o que os pais conseguem dar!): água, alimento, moradia, roupa, proteção, educação, cuidados médicos, afeto, valores, e por aí vai. A criança pequena tende a aceitar o que recebe com mais facilidade. Todavia, à medida que cresce, o ser humano começa a questionar, duvidar e até a recusar algumas das coisas que recebe dos seus genitores.

Isso nos leva a um aprendizado importante: os pais nos dão aquilo que conseguem dar. Além disso, os filhos não podem ter tudo na vida ou ter todas as suas vontades plenamente satisfeitas. Aprender a lidar com a falta e com a frustração faz parte da experiência humana.

Portanto, aqueles que compreendem que, mesmo não tendo tudo aquilo que desejam, receberam o que os pais podiam dar de melhor, encontram mais paz e harmonia nessa relação. A partir desse momento, os filhos também compreendem que são autores da própria história e que aquilo que porventura ainda não obtiveram, eles mesmos podem agir para conquistar.

Nessa fase, os filhos adquirem independência. Continuando sendo gratos por tudo aquilo que lhes foi concedido pelos pais até ali, mas agem por conta própria para que possam ir atrás do que tanto desejam. É um ciclo natural.

Por outro lado, os filhos que não vivenciam essa aceitação e essa gratidão continuam conduzindo a vida como se os pais ainda tivessem alguma dívida com eles. São indivíduos que, mesmo adultos, não “se separam” dos pais. Correntes invisíveis de amargura e acusações os mantêm presos onde estão, sem haver progresso. Novamente, há uma sensação de vazio, fraqueza, necessidade e impotência.

Por isso, a segunda ordem do amor entre pais e filhos é justamente tomar o que os pais dão para além da vida como ela é. Não está sob o nosso controle aquilo que os pais nos dão, mas está sob o nosso controle aquilo que nós mesmos podemos trabalhar e edificar ao longo da vida, sempre com gratidão e respeito por quem veio primeiro.

  • Aceitar o que pertence aos nossos pais e entender que eles fizeram/fazem somente o que conseguem

Ao longo da vida, os nossos pais também constroem ou construíram o seu patrimônio. Esse patrimônio é composto por conhecimentos, atividades, ações, valores e, é claro, bens materiais. No entanto, é importante ter em mente que o que é dos pais pertence aos pais.

Segundo Hellinger, viola a terceira ordem do amor entre pais e filhos aquele que se sente proprietário daquilo que pertence aos pais e que foi construído pelos esforços deles. Ainda que determinados bens venham até nós como herança, só haverá amor se o bem recebido for tratado como uma dádiva, e não como um direito.

Além disso, também não cabe aos filhos julgar a capacidade produtiva dos próprios pais. Reclamar de uma herança pequena não faz sentido, tendo em vista que precisamos, acima de tudo, aceitar que os nossos pais viveram e construíram de acordo com as possibilidades que lhes foram apresentadas ao longo das suas vidas.

Assim como nós vivemos dentro das nossas limitações, os nossos ancestrais também viveram dentro do contexto deles. Por isso, recebemos aquilo que é possível, e não aquilo que queremos. Mais uma vez, esse processo de aceitação é fundamental para a harmonia das relações familiares.

Em outras palavras, a ideia por trás dessa ordem do amor é a compreensão total de que os nossos pais são bons o suficiente e utilizam os recursos dos quais dispõem, da forma que sabem ser e fazer. Ainda que alguns pensem que aquilo que os pais fizeram foi inadequado ou insuficiente, cabe a eles aceitarem que foi feito o que poderia ter sido feito.

Quem quiser uma vida diferente, que aproveite a sua própria autonomia, como citado no item anterior, para construir a sua própria história de acordo com os seus desejos, mas sem negar ou desprezar a história dos próprios pais. Decepções, insatisfações ou não aceitações do que veio antes de nós são violações a essa ordem do amor, prejudicando a relação entre pais e filhos.

  • Os pais são grandes, e os filhos são pequenos

A quarta ordem do amor entre pais e filhos define que os pais são maiores do que os filhos. É claro que, nessa dinâmica familiar, todos os indivíduos participantes merecem respeito. Todavia, existe uma hierarquia que precisa ser honrada e seguida.

Os pais são maiores do que os filhos pelo simples fato de que os pais dão a vida aos filhos, e não o contrário. Assim, os filhos não podem, em algum momento, sentirem-se “pais dos pais” ou tratá-los como se fossem crianças ou seres inferiores. Em geral, os filhos que reconhecem a sua posição de “pequenos” dentro do círculo familiar e que aceitam essa condição encontram mais liberdade e tranquilidade para seguir a vida.

Essa ordem é particularmente difícil de ser aceita pelos filhos que acabam por sustentar os pais ou que veem uma série de erros na história de vida dos seus genitores. Ainda assim, isso não lhes dá o direito de se sentirem superiores aos pais. Todos podem se ajudar e cooperar uns com os outros, mas a hierarquia familiar é algo que não pode ser subvertido.

Alguns filhos, envaidecidos por não poderem retribuir tudo aquilo que os pais lhes deram ao longo da vida, optam por “se fecharem” nessa relação. Acreditam que o que receberam dos pais os coloca em uma posição de débito e de inferioridade. Sentem-se vazios e empobrecidos, por puro orgulho.

Dessa maneira, o ideal seria que cada filho pudesse aceitar com amor tudo aquilo que os pais lhe deram, afinal de contas, eles também vão querer que os seus próprios filhos aceitem aquilo que eles lhes darão, não é mesmo? Essa ideia de aceitar “pais grandes e filhos pequenos” não é senão uma perfeita tradução de valores tão difundidos na nossa sociedade, como a gratidão e a humildade.

Esses valores não nos tornam seres humanos inferiores ou insignificantes, mas apenas pessoas que reconhecem o valor intrínseco àqueles que lhes deram a vida e toda a estrutura necessária para que pudessem se desenvolver enquanto seres humanos. Há um equilíbrio entre não exigir dos pais mais do que eles podem nos dar, mas também não recusar aquilo que eles nos dão de bom grado.

  • Cada qual tem o seu lugar e o direito de pertencer a um sistema familiar

O princípio da reciprocidade dentro das relações familiares consiste em os filhos aceitarem aquilo que recebem dos pais e repassarem aos seus próprios filhos o que foi recebido. Essa dinâmica gera gratidão e permite que haja um fluxo contínuo de amor, que se propaga de geração em geração. A ideia é sempre olhar para frente.

Isso nos leva à quinta e última ordem do amor, que consiste em compreender que cada indivíduo tem o seu lugar dentro de um sistema familiar. Em uma dinâmica disfuncional dentro de uma família, pode acontecer de um indivíduo querer ocupar a posição de outro, como é o caso de filhos que querem assumir o poder dos pais.

Todavia, a cada pessoa é designado um lugar em que precisa estar. É nesse lugar, e somente nele, que o indivíduo será capaz de alcançar as suas metas de vida e encontrar motivação para lutar pela concretização dos seus sonhos. Aqueles que não reconhecem ou não aceitam o lugar onde estão, porém, podem causar problemas a todos os que estiverem ao seu redor.

Também pode ocorrer de um indivíduo ser excluído do meio, ou seja, não ser aceito dentro do sistema familiar ao qual pertence. Nesse caso, é comum que o indivíduo excluído recorra a outros meios e outros sistemas para encontrar aquilo que deseja: amor, afeto, atenção, estrutura, valores, conhecimentos, autoconfiança, e por aí vai.

É por isso que existem pessoas que “substituem” a vida familiar por uma dedicação exacerbada ao trabalho ou a qualquer outra atividade — uma desesperada tentativa de encontrar o seu próprio lugar. Segundo Bert Hellinger, as constelações familiares ajudam no processo de reinserção desse indivíduo excluído ao sistema familiar ao qual pertence de fato, cicatrizando as dores passadas e se reencontrando com o seu propósito de vida. É como se as sombras desaparecessem, dando início a um novo tempo de mais luz.

À medida que exploramos as “5 ordens do amor” de Bert Hellinger no contexto das relações entre pais e filhos, mergulhamos em um universo complexo de dinâmicas familiares e conexões profundas. Essas ordens do amor são mais do que meros conceitos; são guias que podem nos ajudar a entender melhor o funcionamento das nossas famílias e, o mais importante, como podemos cultivar relacionamentos saudáveis e harmoniosos entre pais e filhos.

Esses relacionamentos são um dos alicerces mais importantes de nossas vidas, e compreender essas ordens do amor nos ajuda a trilhar uma jornada de harmonia, aceitação e amor incondicional. A nossa família é um tesouro precioso, e, com sabedoria e cuidado, nós podemos nutrir e fortalecer os laços que nos unem, construindo um alicerce sólido para as gerações futuras.

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