A hipnose é um mergulho em nossa própria consciência e inconsciência, com uma finalidade terapêutica específica e sem que tenhamos necessariamente um roteiro previamente estabelecido. Buscar em nós mesmos a resposta para as nossas agruras é algo a que Milton Erickson deu forma com a sua hipnoterapia.

No processo de coaching, esse olhar interno é exatamente a trajetória que permite uma mudança de estado e um autoconhecimento elevado. Não é por acaso, portanto, que juntar as propriedades da hipnose ericksoniana com as potencialidades do coaching é uma soma verdadeiramente multiplicadora de resultados positivos.

Segundo Zeig (in ERICKSON; HERSHMAN; SECTER, 2003, prefácio) ressalta, os 10 postulados mais importantes da hipnoterapia ericksoniana são basicamente as características que a distinguem da hipnose tradicional. É o que você vai conferir neste artigo!

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CARACTERÍSTICAS DA HIPNOSE ERICKSONIANA

1. Uso da abordagem indireta

Em vez de conduzir o coachee (a pessoa que passa pelo processo de coaching) a um estado de transe, o coach faz sugestões, em um transe conversacional, como: “gostaria de saber como seria se você fosse sentindo o seu braço ficar cada vez mais pesado até que não conseguisse mais movê-lo…“. É mais sutil e, muitas vezes, mais eficiente do que apenas afirmar “Sinta o seu braço ficando rígido e estático”. A abordagem indireta conduz a pessoa ao transe, dando início à hipnoterapia.

2. Hipnose como jogo interacional

O transe interacional aperfeiçoado por Erickson consiste em uma comunicação recíproca: o coachee não apenas ouve o coach, como também conversa com ele em vários momentos, o que possibilita calibrar e/ou redirecionar os efeitos desejados para obter as respostas à questão/incômodo apresentado. É uma espécie de diálogo entre o coach consciente e o coachee inconsciente, permitindo que as camadas mais internas do ser possam ser acessadas.

3. Pequenas mudanças, passo a passo

O trabalho de Erickson era preciso. Portanto, as tarefas a serem cumpridas eram simples e comuns, de modo que os coachees são convidados a cumpri-las. Embora pequenas e simples, resultavam em mudanças profundas, gradativamente. Assim, a hipnoterapia não se compromete com mudanças bruscas. Uma transformação profunda do ser ocorre quando os níveis conscientes e inconscientes se alinham, o que demanda algumas sessões, e não se resolve de um dia para o outro.

4. Foco no sintoma

Os conceitos verbais e cinestésicos do sintoma, pelo coachee, permitem que eles sejam modificados, ampliados em seu estado geral, como se fossem uma “bola de neve”. Assim, são identificados os fatores que o coachee deseja resolver, uma vez que provocam incômodos na sua vida, seja ela pessoal, seja profissional.

5. Respeito ao coachee

O foco do coach está no seu coachee, e a sua atenção é centrada nele. Erickson aconselhava uma nova conduta frente ao coachee, de que nos colocássemos no seu lugar para saber o que ele espera que façamos, e não agir de acordo com a nossa vontade própria. Assim, compreendemos que a responsabilidade diante da vida daquele ser humano e a empatia também são fatores primordiais na condução dos processos do tipo.

6. Hipnose como cooperação

Na hipnoterapia ericksoniana, o transe deve ser conduzido de forma cooperativa entre o coach e o coachee, somando forças para superar os desafios deste. Conforme citamos acima, não se trata de uma sequência de ordens, mas sim de um diálogo que flui com naturalidade e tranquilidade, por meio da interação, da abordagem indireta e do diálogo construtivo.

7. Comunicação precisa

O coach deve estar plenamente consciente do que está comunicando ao coachee, tanto pelas palavras quanto pelos comportamentos não verbais. Quando lidamos com diferentes níveis de consciência, é fundamental que as mensagens emitidas sejam extremamente claras e precisas, sem que possam ser compreendidas de maneiras distintas da intenção original.

8. Utilização dos sintomas

Em algumas situações, Erickson sugere a potencialização dos sintomas, de modo que tais exageros causavam certo incômodo ao próprio coachee, que decidia abandoná-los. Trata-se de uma técnica de exposição do indivíduo ao que lhe é nocivo, a fim de que adquira essa percepção e obtenha a motivação de mudar e de encontrar o que o faz mais feliz.

9. Adaptação da hipnoterapia

A abordagem ericksoniana deve ser adaptada de acordo com o modo de ser de cada coach e de cada indivíduo. É necessário compreender os contextos, necessidades, desejos e objetivos a serem alcançados em cada caso. Por esse motivo, ela é conhecida como “terapia estratégica” ou “terapia não convencional”. Essa hipnoterapia pode ser adaptada de acordo com os contextos que se apresentam, mas sem abrir mão dos 10 postulados desta lista.

10. Orientação para o futuro

“Uma das propostas da hipnose e da hipnoterapia é a conscientização do cliente de que ele não tem somente um passado extremamente importante: ele também tem um presente que é mais importante e um futuro ainda mais importante do que o presente e o passado” (in ERICKSON; HERSHMAN; SECTER, 2003, prefácio, p. 13). A ideia é que os tópicos trabalhados nas sessões de fato promovam uma diferença para o indivíduo daqui por diante, facilitando o alcance dos seus objetivos e da sua felicidade.

Parte do que encanta e torna Erickson um pensador e prático bem caro à tradição do coaching é, sem dúvida, uma postura colaborativa para com o seu paciente. As melhorias desejadas só são obtidas quando há sintonia e confiança entre o coach e o coachee em toda e cada sessão.

Independentemente de qualquer filão terapêutico, ou até mesmo ideológico, o que caracteriza Erickson de maneira marcante é o uso de técnicas e posturas inovadoras, a fim de ajudar a fazer com que o paciente encontre o seu caminho, mobilizando as suas próprias forças e capacidades para alcançar essa finalidade. Ora, não se pode negar que isso seja uma atitude coach do início ao fim.

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