Ninguém gosta de errar. O erro é quase sempre visto como um empecilho, um obstáculo ou até mesmo um impedimento ao alcance das nossas metas. Aliás, existem pessoas que, quando erram, vivenciam muitas emoções negativas, como tristeza, frustração, irritação e falta de confiança em si mesmas.

Mas será que o erro é sempre um obstáculo? Será que ele é um inimigo natural do sucesso? Não há um jeito de lidar melhor com esse acontecimento tão comum? Vamos entender que a relação entre essas duas palavras é muito mais próxima e paralela do que imaginamos, em todas as áreas da vida. Confira!

O erro e a sua importância

Lembre-se de quando você estava aprendendo a ler. Hoje, essa tarefa parece um tanto simples e corriqueira, mas, lá no passado, você foi exposto a uma série de letras, números, acentos, pontuações e demais símbolos. Aos poucos, ensinaram a você que unindo as letras e esses símbolos, podemos emitir sons que correspondem à leitura.

É claro que, no início, você cometeu muitos erros de pronúncia, trocava as ordens das letras, ignorava as pontuações, confundia os acentos, e por aí vai. De tanto errar e ouvir as correções dos seus pais e professores, aos poucos você aprendeu a ler com desenvoltura.

E aí? O erro foi um inimigo ou um impeditivo para a sua capacidade de ler? Na verdade, o que ocorre é justamente o oposto: o erro evidencia as nossas dificuldades, de modo que possamos corrigi-las e aperfeiçoá-las, até que, com muita repetição, consigamos dominar determinada habilidade.

O conceito de sucesso

Além de ressignificar o conceito de erro, muitas vezes, nós precisamos também ressignificar o que o sucesso representa para nós. Por falar nisso, reflita: o que é sucesso para você? É ser o melhor de todos em alguma habilidade? É ser perfeito? É não cometer erro algum na execução de alguma atividade?

PSC

Não podemos confundir sucesso com perfeição. Mesmo o indivíduo mais competente em alguma área de atuação comete erros. Até Pelé, o rei do futebol, deixou de marcar alguns gols, mas nem por isso perdeu a majestade e a admiração inquestionável dentro de campo.

Por isso, não acredite que é possível ser perfeito. A perfeição não existe. O que você pode e deve fazer é dar o seu melhor e procurar os melhores resultados possíveis. Entretanto, no meio dessa busca, compreenda que as falhas vão surgir: algumas maiores, outras menores, e isso não fará de você um fracasso. É preciso naturalizar os erros, pois eles fazem parte da trajetória até das pessoas mais bem-sucedidas.

Alguns exemplos

Na sequência, vamos entender melhor por que os erros não podem ser vistos como inimigos do sucesso, mas apenas como etapas que os antecedem.

  • Nos esportes

Quando assistimos a um evento esportivo de alto rendimento, como um campeonato mundial ou as Olimpíadas, podemos ter a falsa crença de que aqueles atletas incríveis já nasceram “predestinados” ao sucesso. Isso não é verdade. É fato que pode haver uma predisposição a determinadas modalidades, mas, sem treinamento e muita persistência, ninguém consegue ser bem-sucedido em um esporte, seja ele qual for.

A atleta americana Simone Biles, por exemplo, é considerada um dos maiores nomes da história da ginástica artística mundial. Ela é tão competente que apresenta movimentos que nenhuma outra ginasta consegue executar, e as manobras foram batizadas com o seu próprio nome. Você acha que, nas 32 horas semanais de treino que Biles afirmou serem a sua rotina, ela não comete erros? Ela erra, mas, de tanto errar, aperfeiçoa a execução de cada movimento para brilhar nas competições.

  • Nos estudos

Acima, já citamos um exemplo bem típico para a maioria das pessoas, que é a hora de aprender a ler. Porém, podemos ampliar a importância de errar basicamente para o aprendizado de qualquer coisa. Em matemática, por exemplo, as tabuadas, as frações e o uso de determinadas fórmulas confundem muita gente. Nesses momentos, não tem jeito: é fazendo dezenas de exercícios que conseguimos fixar os conceitos e métodos, o que, muitas vezes, só ocorre quando corrigimos os nossos próprios erros.

Não apenas na vida acadêmica, mas também quando aprendemos a executar alguma atividade, como cozinhar ou dirigir, os erros são grandes professores. Na hora em que acontecem, geram alguma decepção. Entretanto, quando começamos de novo, tomamos mais cuidado para não repetir o erro, o que nos conduz ao acerto.

  • No trabalho

O trabalho também é uma área em que cometemos erros, quase que diariamente. É claro que alguns são mais graves, o que pode nos colocar em situação de risco, mas, em geral, as falhas também fazem parte da vida profissional. Especialmente para quem estiver iniciando uma carreira, é natural cometer erros, como falhas de comunicação, dificuldades com determinadas ferramentas, falta de prática em algumas tarefas, e por aí vai.

A esse respeito, é importante que nos lembremos de que até mesmo o chefe do departamento foi, um dia, um iniciante, um estagiário, um assistente etc. Como ninguém é perfeito, essas pessoas também cometeram erros, mas isso não as impediu de progredir, passo a passo, naquela ou em outras empresas. Por isso, seja persistente.

  • Nas empresas

As empresas também cometem erros, coletivamente falando. Existem diversas organizações, mesmo as mais conhecidas e estabilizadas no mercado, que cometem falhas estratégicas. São produtos que apresentam defeitos, serviços que são rejeitados no mercado, campanhas publicitárias que geram imagens negativas, erros de precificação, atendimento mal avaliado, fusões ou separações precipitadas, entre outros.

Nem por isso essas empresas deixam de crescer ou de prosperar. Muitas organizações têm no seu DNA a impressionante capacidade de aprender com as crises. É por isso que existem avaliações de desempenho, feedbacks, relatórios gerenciais e uma série de outras ferramentas que permitem que as organizações identifiquem os seus erros para que possam superá-los e recuperar o caminho do crescimento.

  • Na vida pessoal

Além de todas as áreas já citadas, não podemos deixar de lado o fato de que a vida pessoal também é feita de erros. Quer um exemplo simples? É possível que uma pessoa tenha diversos relacionamentos amorosos problemáticos antes de encontrar alguém realmente especial. Isso significa que a pessoa é um fracasso na vida amorosa? De forma alguma! Pode ser que ela tenha aprendido com os erros dos relacionamentos anteriores a ponto de construir uma relação atual muito melhor.

Isso vale para muitos aspectos da vida pessoal: os cuidados com a saúde física e mental, a nossa escolha de amizades, o tempo que dedicamos aos nossos familiares, a nossa capacidade de prevenir ou solucionar conflitos, entre outros. As experiências de vida, mesmo as que consideramos erradas, podem nos levar a reflexões e aprendizados que geram escolhas mais sábias no futuro.

Desconstruindo o medo do fracasso

Como você pode notar, o erro ou o fracasso não é o oposto do sucesso, mas pode ser visto apenas como uma etapa que o antecede, pois gera mais conhecimentos. Entretanto, se você tem medo de errar, confira as recomendações a seguir.

  • Reconheça o erro como parte da vida

Em primeiro lugar, conforme já citamos aqui, reconheça o erro como parte da vida. Ninguém é perfeito, aliás, essa palavra “perfeição” não deveria fazer parte do vocabulário de nenhum ser humano. Por mais desagradável que seja, a falha deve ser normalizada, pois qualquer pessoa erra, em qualquer área ou fase da vida. Quando deixamos de observar o erro como algo terrível e imperdoável, nos permitimos cometê-lo com um pouco mais de flexibilidade. Permita-se!

  • Mude o seu conceito de fracasso

Pense em uma prova de matemática: o aluno que erra um exercício pode afirmar que foi um fracasso na prova? É claro que não, ele pode até ter tirado um 9! Então, por que algumas pessoas insistem em dizer que são fracassadas pelo simples fato de cometerem erros?

Errar é sinal de que você está se arriscando, saindo da zona de conforto e tentando algo novo. Para uma vida melhor, precisamos mesmo fazer coisas que nunca fizemos antes, e é natural errar nesses momentos. Isso não significa fracasso!

  • Seja realista ao definir metas

Sair da zona de conforto, no entanto, não pode ser confundido com sair por aí correndo qualquer risco sem planejamento. Precisamos lidar bem com o erro, mas nem por isso devemos deixar de evitá-lo. Para isso, planeje-se. Defina metas realistas, ou seja, que estão dentro das suas possibilidades. Além disso, verifique todos os conhecimentos e recursos de que você necessita para agir. Uma dica especial é subdividir grandes objetivos em pequenas metas, pois isso ameniza o medo.

  • Busque apoio

Há um ditado em inglês que diz “No man is an island”, cuja tradução é “Nenhum homem é uma ilha”. Isso significa que nenhuma pessoa é autossuficiente, isto é, que nós podemos precisar da ajuda de outras pessoas. O erro, muitas vezes, é fruto da ausência de algum conhecimento ou habilidade. Por isso, se você não deseja errar, que tal adquirir alguns desses saberes com quem é mais experiente no assunto? Busque o apoio de colegas ou mentores. Você pode se inspirar com as histórias deles!

  • Comece aos poucos

Perder o medo de errar é um desafio e tanto, especialmente para quem se preocupa demais com as opiniões alheias ou com o próprio desempenho. Por isso, a dica é começar aos poucos. Siga a sua lista de metas, de modo a alcançá-las uma de cada vez. Não queira “abraçar o mundo”, pois isso aumentará as chances de erros e o tornará ainda mais resistente a começar de novo. Dessa forma, comece devagar e aumente o grau de dificuldade aos poucos, conforme se sentir mais confiante.

  • Deixe o perfeccionismo de lado

O perfeccionismo é a crença de que é possível agir sem cometer nenhum erro. Isso não faz parte da natureza humana e, com muita frequência, está associado à ansiedade e ao medo do julgamento alheio. Por isso, tenha em mente que as pessoas não estão assim tão preocupadas com a sua performance — ao menos não tanto quanto você mesmo. Elas também cometem falhas, muitas vezes mais do que você. Portanto, relativize a importância da opinião alheia e não seja tão perfeccionista!

  • Amplie os seus conhecimentos continuamente

Existem duas maneiras de errar menos: adquirir mais conhecimentos e praticar continuamente as habilidades aprendidas. Enquanto estiver aprendendo algo, lembre-se de que errar é parte do processo. No entanto, faça a sua parte: leia, estude, pesquise e coloque em prática todos os saberes que você tiver adquirido. Ao praticar algo novo, você vai errar várias vezes, mas é errando que você vai identificar o que precisa ser mudado até encontrar o caminho do sucesso. Persista!

  • Celebre as pequenas conquistas

Fez o arroz sem queimar? Dirigiu sem deixar o carro morrer? Fez o relatório que o chefe pediu sem grandes alterações? Foi à academia todos os dias da semana, de forma disciplinada? Comemore! Se você correu riscos, aprendeu com os erros e conseguiu fazer algo da forma correta, celebre, por mais que a conquista pareça pequena. Na sua mente, isso será um grande fator motivacional para que você continue com essa atitude de aprender coisas novas e sair da zona de conforto.

  • Pratique a autocompaixão

Se você errar, não se puna. O erro não deve fazer com que você questione o seu valor, a sua inteligência ou a sua competência de maneira geral. A única coisa que um erro revela sobre você é que você é um ser humano como qualquer outro. Nunca se esqueça da natureza errante e imperfeita da nossa espécie. Aqui no Planeta Terra, todo mundo erra e, se estiver atento, aprende com as falhas cometidas. Acolha o seu erro, entenda que é normal ficar triste, mas lembre-se de que você pode tentar de novo.

  • Visualize o sucesso

Quando estiver tentando alcançar algo, visualize o seu sucesso. Algumas pessoas criam até mesmo um mural com imagens que representam o indivíduo alcançando o objetivo determinado. Esse exercício simples serve como ferramenta motivacional para que você não desista, sobretudo quando perceber que cometeu um erro. Foque nas lições aprendidas com os erros e lembre-se de que o sucesso não é um estado de perfeição, mas de domínio de uma habilidade (mesmo errando eventualmente).

Superar o medo de errar é um processo contínuo. A prática contínua dessas recomendações pode auxiliar na construção de uma mentalidade mais positiva em relação aos erros e fomentar um crescimento mais significativo com o passar do tempo. Seja paciente e entenda que o erro não é um inimigo do sucesso, mas uma etapa que o antecede!