Por que as pessoas conseguem dormir e acordar sempre no mesmo horário? Por que sentimos fome mais ou menos nos mesmos momentos do dia? Por que os passarinhos sabem sempre a hora de cantar, logo ao amanhecer? Parece que a natureza tem um relógio interno, não é mesmo? Não só parece, como é verdade: o relógio biológico.

Trata-se de um mecanismo que fez e faz parte da evolução de quase todas as espécies do planeta. Em um ciclo de 24 horas, tudo acontece e se repete, dia após dia, inclusive na vida humana. Neste artigo, vamos compreender melhor como e por que isso acontece. Boa leitura!

O relógio biológico em pesquisas científicas

Já não é novidade que o relógio biológico existe, mas o seu nome oficial, o ciclo circadiano, pode ser novo para você. Esse ciclo contempla processos biológicos que se repetem aproximadamente a cada 24 horas em diversas espécies, inclusive na espécie humana. Tudo isso se deve, em grande parte, a um elemento essencial à vida na Terra: o Sol.

Alguns pesquisadores já fizeram o experimento de passar dias em ambientes remotos, longe da luz solar, e o que detectaram foi que os seus relógios internos ficaram completamente malucos. Os períodos de sono e de vigília não seguiam mais ordem alguma depois de alguns dias, prejudicando a noção de tempo decorrido. Até mesmo problemas psicológicos foram desenvolvidos longe da luz.

Assim, ficou constatado que os seres humanos precisam da exposição à luz e à escuridão para regular o seu ritmo interno. Na verdade, todo ser vivo tem esse tipo de relógio biológico, até mesmo as bactérias e os animais que vivem nas profundezas do oceano, onde quase não há luz.

O ciclo circadiano e a sua importância

Mas qual é a função desse ciclo? Na verdade, você já parou para pensar em como seria a sua vida se não fosse preciso dormir? “Extremamente produtiva”, você poderia dizer. Contudo, a verdade é que você precisaria consumir muito mais alimentos para obter energia de forma tão constante. Além disso, todo órgão e todo sistema precisam de um tempo sem atividade para reparar os tecidos danificados pelo uso.

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Assim, a noite e o sono existem para que possamos descansar e recuperar as energias para um novo ciclo produtivo. Sem esse processo, dificilmente algum ser conseguiria sobreviver. Nós só chegamos até aqui na escala evolutiva porque conseguimos economizar energia, recuperar os tecidos orgânicos e até mesmo crescer, pois o hormônio do crescimento só é liberado durante o sono.

Ao amanhecer, a temperatura do ambiente se eleva, e a claridade da luz solar alcança os nossos olhos, que “avisam” o cérebro que é dia. Dessa forma, uma série de hormônios de alerta são liberados, nos ajudando a conduzir as atividades diárias. Ao anoitecer, porém, essa perda da luminosidade faz os olhos “comunicarem” o cérebro de que mais uma noite vem aí, comandando o sistema de relaxamento e descanso.

O problema da poluição luminosa

Para os nossos ancestrais que viviam nas cavernas, era mais fácil manter o ciclo circadiano em funcionamento. A luz a que eles tinham acesso era 100% natural. Hoje em dia, contudo, nós temos acesso a muitas luzes artificiais que “enganam” o cérebro durante a noite: lâmpadas, televisores, aparelhos celulares, computadores etc. — a chamada “poluição luminosa”.

Todos esses dispositivos continuam sendo detectados pelas células dos nossos olhos. Ingênuas, elas acabam por avisar o cérebro de que ainda é dia, atrasando a produção dos hormônios da noite, como a melatonina. É por isso que o planeta está cada vez mais brilhante e que nós estamos cada vez mais vítimas da insônia e do estresse provocado pelo excesso de estímulos.

Além de nós, seres humanos, outras espécies também têm os seus ciclos circadianos afetados pelas luzes artificiais no planeta: a migração noturna das aves é afetada, as plantas têm florescido mais cedo, os peixes-palhaço têm tido problemas de reprodução, e as tartarugas evitam desovar em praias com luzes. Em maior ou menor grau, todos sofrem com esse tipo de poluição.

Acredita-se, até mesmo, que exista uma maior incidência de câncer, diabetes, obesidade, problemas cardiovasculares e depressão entre os seres humanos, devido a esse desequilíbrio no relógio biológico. As luzes brancas e azuladas, que “imitam” o sol do meio-dia, são particularmente piores, enquanto as mais amareladas ou avermelhadas são um pouco menos nocivas, pois simulam o pôr do sol e a luz do fogo.

Um ciclo que se autorregula

Cientistas têm descoberto que existem genes associados ao ciclo circadiano. Por mais que estejamos dependentes da luz do sol, o organismo também tem a sua maneira própria de sintetizar proteínas que ajudam a manter o relógio biológico, como é o caso da proteína PER.

Essa proteína se acumula durante a noite e é reduzida durante o dia, em ciclos de 24 horas. Ela mesma ativa os genes na hora de liberar ou de frear a sua própria produção, constituindo um ciclo que se autorregula. É por isso que mesmo que você fique 100% isolado da luz solar, o seu organismo ainda conseguirá manter o relógio biológico por algum tempo, mas vai se desregular em breve.

Esse ciclo é curioso, pois nos leva à constatação de que cada órgão ou sistema do corpo tem horários mais propícios ao seu funcionamento. Por exemplo:

  • Os homens têm picos de testosterona ao amanhecer, favorecendo a atividade sexual;
  • As 10h da manhã e o meio da tarde são os horários mais difíceis para alguém adormecer;
  • O final da tarde é o pico da força muscular, da capacidade pulmonar e da coordenação motora;
  • As células da pele se multiplicam com mais rapidez durante a madrugada;
  • Os processos de cicatrização ocorrem mais lentamente durante a noite;
  • O batimento cardíaco e a pressão arterial alcançam os seus menores níveis durante a madrugada, mas se elevam ao amanhecer — horário em que comumente são registrados infartos e AVCs;
  • O sistema imunológico trabalha com mais eficácia enquanto a pessoa dorme.

Essas constatações têm levado os cientistas ao desenvolvimento de uma nova área de estudo: a cronofarmacologia. Ela se dedica ao estudo dos processos biológicos no ciclo circadiano. Isso ajuda os médicos, por exemplo, a prescreverem os horários ideais para que as pessoas tomem as suas medicações, obtendo os melhores resultados possíveis.

Alimentação, obesidade e sono

Você sabia que até mesmo o tratamento da obesidade tem relação com o sono? Estudos feitos com dois grupos de pessoas, submetidos à mesma dieta, concluíram que o grupo que se alimentava imediatamente antes de dormir tinha mais dificuldade de perder peso do que o grupo que jantava mais cedo. Mesmo comendo as mesmas coisas em mesma quantidade, o horário da alimentação fazia toda a diferença no metabolismo e na absorção de nutrientes.

Já no que diz respeito ao sono, é fato que, depois que o Sol se põe, todos produzem melatonina, o hormônio do sono. No entanto, isso pode acontecer um pouco mais cedo em algumas pessoas e um pouco mais tarde em outras, explicando também por que alguns indivíduos acordam mais cedo, enquanto outros acordam mais tarde. Nos adolescentes, por exemplo, a melatonina costuma ser liberada mais tarde, demandando que eles também acordem um pouco mais tarde.

Nos adultos, também há divergências, embora menores. Há pessoas que naturalmente dormem mais cedo, enquanto outras naturalmente dormem mais tarde. Em média, precisamos de 8h de sono por noite, mas há quem se sinta bem com 7h, enquanto outros precisam de 9h.

O ciclo circadiano é resultado de milhões de anos de evolução e adaptação das espécies aos efeitos da noite e do dia no planeta Terra. Naturalmente, há genes envolvidos nisso, mas o nosso comportamento também pode tanto beneficiar quanto prejudicar a nossa saúde. Por isso, obedeça às leis da natureza, expondo-se à luz durante o dia e tirando o pé do acelerador ao anoitecer. Evitando a poluição luminosa, certamente encontraremos um ritmo de vida mais saudável e feliz!

E você, ser de luz, como avalia a sua relação com o relógio biológico? Deixe o seu comentário no espaço a seguir. Além do mais, que tal levar estas informações a todos os seus amigos, colegas de trabalho, familiares e a quem mais possa se beneficiar delas? Compartilhe este artigo nas suas redes sociais!