Persistir e insistir são dois verbos muito parecidos, tanto na forma como no conteúdo. Parecidos, porém, não significa sinônimos. Na vida, persistir é importante, mas será que insistir é uma decisão inteligente?

Na verdade, muitas pessoas sequer sabem a diferença entre uma coisa e outra. O que sabemos é que nenhum objetivo é alcançado na vida sem garra e determinação. Mas, afinal de contas, é melhor persistir ou insistir? Vamos compreender melhor esse duelo na sequência.

O erro de Eduardo

Havia um jovem chamado Eduardo. Ele era muito estudioso, mas não sabia ao certo o que queria da vida. Ouvia de muitas pessoas que medicina era uma boa profissão e que gerava altos salários. Pensando nisso, começou a estudar esse ofício. Depois de um ano, porém, percebeu que não tinha a frieza necessária para lidar com sangue, órgãos e cirurgias.

Depois de abandonar o curso, pensou novamente em outra vocação. Pesquisava sempre as profissões que geravam altos salários, até que encontrou a engenharia civil. Mais uma vez, pôs-se a estudar, prestou vestibular e foi aprovado. Deu início ao curso e dedicou-se muito, mas percebeu que não queria fazer aquilo para o resto da sua vida. Era matemática demais para a sua cabeça.

Abandonou o seu segundo curso de graduação e retomou a sua pesquisa. Ouviu dizer que juízes e advogados também poderiam receber ótimas remunerações. Com isso em mente, deu início à sua terceira graduação, o Direito. Todavia, Eduardo se deu conta de que não tinha paciência para estudar tantas leis e de que não tinha o dom da oratória. Ficava inseguro ao debater diante de tantas pessoas.

Por fim, na quarta tentativa, o jovem finalmente deixou de procurar vocações tendo como único critério o financeiro. Passou a pensar naquilo que ele realmente gostava de fazer e nas coisas em que realmente era bom. Por mais que fosse estudioso e que tirasse notas altas em diferentes áreas do conhecimento, Eduardo gostava mesmo era de ajudar pessoas.

Dessa forma, ele estudou psicologia e, depois de 5 anos de curso, finalmente passou a exercer uma profissão compatível com os seus interesses, desejos, paixões, conhecimentos, habilidades, aptidões, enfim, com o seu ser em plenitude.

O que podemos aprender com o erro de Eduardo?

Você acha que Eduardo foi persistente ou insistente? Bem, a princípio, ele foi insistente, e isso não é legal.

Insistir significa tentar alcançar algo diversas vezes, mas sempre usando a mesma estratégia ou estratégias muito parecidas entre si. Perceba que Eduardo sempre utilizava o mesmo critério para a sua escolha vocacional: investir em profissões que oferecessem um elevado retorno financeiro.

Não que esse critério seja errado ou que não deva ser considerado, mas será que a única coisa a ser levada em consideração é a remuneração? Eduardo ignorava diversos outros critérios, como aptidões naturais, interesses pessoais, habilidades e paixões.

Resumidamente, ele errava ao escolher um critério que não o fazia verdadeiramente feliz. Assim, o problema não está no erro em si, mas no fato de não identificá-lo. Ao tentar novamente, Eduardo cometia o mesmo erro de escolher uma profissão exclusivamente pensando no dinheiro.

A história acima é apenas um exemplo de como insistir é algo ruim. Tentar uma ou duas vezes é OK, mas, a partir da terceira, os sinais nos conduzem a uma necessidade real de mudar, ou seja, de escolher outros meios para agir.

Então, é melhor persistir do que insistir?

Muito bem! É isso mesmo! Insistir é tentar sempre da mesma forma, enquanto persistir significa tentar de maneiras diferentes, até encontrar aquela que de fato funciona.

O exemplo de Eduardo nos mostra que ele insistiu nas três primeiras tentativas, ou seja, tentou sempre com a mesma abordagem. Apenas da terceira para a quarta tentativa, podemos dizer que ele persistiu, uma vez que mudou o meio de ação — substituiu o critério exclusivamente financeiro para levar em consideração os seus interesses antes de escolher uma profissão.

Perceba que isso tem tudo a ver com a forma como lidamos com os erros. Sempre que uma pessoa não reconhece que errou ou teima que estava certa, ela age da mesma maneira em uma desesperada tentativa de provar que estava com a razão. Raramente isso acontece. O mais comum é que as pessoas insistentes acabem repetindo o erro diversas vezes, até que consigam extrair uma lição válida e não mais errar.

Na verdade, há muitas correntes filosóficas e espiritualistas que até mesmo defendem a ideia de que a vida costuma apresentar às pessoas os mesmos problemas e dificuldades, até que finalmente tenham aprendido o que tinham a aprender. Somente assim conseguem “passar de fase” e encontrar novas experiências.

Portanto, é sempre preferível persistir a insistir. A pessoa que persiste é aquela que identifica o erro cometido e o admite, sem medo ou vergonha. Em seguida, ela sabe que precisa tentar novamente, mas corrigindo os erros identificados. 

Esse processo é popularmente conhecido como “recalcular a rota”. Se você entrou em uma rua que não o conduziu ao seu destino, certamente precisará entrar em outra rua até que o encontre, não é mesmo? Esta é exatamente a diferença: insistir é entrar sempre na mesma rua, enquanto persistir é variar os caminhos percorridos até achar o destino.

“Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes” — Albert Einstein

Ok, mas como posso ser mais persistente e menos insistente?

Agora que você já compreende a diferença entre insistir e persistir, confira algumas recomendações sobre como desenvolver a persistência.

  • Defina metas claras

Para ser uma pessoa persistente, você precisa ter consciência daquilo que deseja. Pode ser que a visualização desse objetivo não seja tão clara e rica em detalhes, mas ao menos uma noção de onde quer chegar você deve ter. É importante que essas metas sejam específicas, mensuráveis e conectadas com o seu ser (conhecimentos, habilidades e desejos pessoais). Assim, você poderá acompanhar o seu progresso e manter a motivação. Construa esse senso de direção e propósito antes de agir.

  • Divida essas metas em etapas menores

Sempre que nos deparamos com um grande objetivo a ser alcançado, sentimos medo ou insegurança, afinal de contas, temos um grande caminho pela frente. No entanto, as coisas ficam mais fáceis quando subdividimos esse grande objetivo em pequenas etapas. Falar para uma criança que ela deverá prestar vestibular daqui a 7 anos é assustador, mas quando distribuímos os aprendizados ao longo desse tempo, série após série, tudo fica mais suave. Para ser persistente, adote essa mesma estratégia.

  • Crie um plano de ação

Outro fator importante para que possamos persistir, e não insistir, é definir um plano de ação. Em outras palavras, planeje o que você deseja fazer. Por exemplo, se desejar abrir uma empresa, organize o dinheiro necessário, os profissionais a serem contratados, o espaço físico, as mercadorias, entre outros. Sem um plano de ação, você poderá se sentir perdido e muito mais suscetível à ocorrência de erros. Assim, pegue as etapas definidas no item acima e defina uma ordem adequada de execução.

  • Mantenha o foco

Para ser persistente, precisamos ter foco, ou seja, concentrar a nossa atenção e a nossa energia nas atividades que nos levarão ao nosso estado desejado. Isso envolve abrir mão de algumas coisas, ou seja, daquilo que, no momento, não é prioridade. Se um jovem estudante deseja ser aprovado em um concorrido vestibular, é importante que ele dedique muitas horas do dia aos estudos. Nessa fase da vida, provavelmente, ele terá que deixar de lado alguns hobbies, passeios, baladas, entre outros.

  • Cultive hábitos positivos

Persistir é algo que envolve muita força de vontade. Por isso, é necessário desenvolver um conjunto de hábitos que contribuam com o nosso objetivo. Em geral, é sabido que algumas atitudes melhoram a performance de qualquer pessoa, independentemente do objetivo a ser alcançado, como: definir horários aproximados para cada atividade, ter uma agenda, meditar diariamente, praticar exercícios físicos com regularidade, manter os espaços físicos organizados, entre outros. Cuide-se!

  • Não ignore os erros

Talvez essa seja a dica mais importante. Enquanto tentamos conquistar algo, cometemos erros. Dificilmente alcançaremos o estado desejado sem ter algum tropeço, por menor que seja. Quando isso acontecer, não ignore a falha cometida. Por mais desagradável que seja, observe-a e analise-a sem medo ou vergonha. Questione-se: o que esse erro tem a me ensinar? Como eu posso evitá-lo futuramente? O que eu poderia ter feito de diferente? Reflita e responda a essas perguntas.

  • Tente novamente de diferentes formas

Para que você de fato persista, deverá tentar novamente quantas vezes forem necessárias. Não podemos desanimar no primeiro obstáculo e logo desistir, não é mesmo? Assim, precisamos identificar os erros cometidos e redefinir estratégias, recomeçando as tentativas de maneiras distintas daquelas que originaram as falhas. Isso envolve certa dose de criatividade e inteligência, afinal, é preciso encontrar novos caminhos. Não insista naquilo que já se provou ineficaz, ok? Diversifique a sua forma de agir!

  • Procure olhar o lado positivo das experiências

Tentar, errar, tentar de novo, errar de novo, tentar mais uma vez, acertar. É assim mesmo! Nós precisamos tentar, arriscar, e, em algum momento, vai dar certo. Não temos como prever quanto tempo vai demorar ou em quantas tentativas conseguiremos. O fato é que é necessário manter uma mentalidade positiva, mesmo quando as coisas parecerem difíceis ou distantes de dar certo. Acreditar que você pode superar obstáculos é essencial. Portanto, confie nas suas habilidades e nos seus conhecimentos!

  • Estabeleça rotinas

Conforme citamos acima, o sucesso quase sempre é resultado de um conjunto de hábitos. Dessa forma, procure definir rotinas mais ou menos definidas para que você possa se organizar e se dedicar ao alcance do seu objetivo. Essa rotina não precisa ser super rígida, mas é interessante ter uma agenda por meio da qual você possa organizar os dias e horários de tudo aquilo que você precisa fazer, sem se esquecer de nada. Isso ajuda a criar consistência e torna mais fácil manter o foco nas suas metas.

  • Recompense-se

Por último, mas definitivamente não menos importante, defina recompensas para si mesmo. Sempre que alguma decisão que você tiver tomado der certo, celebre-a, por mais insignificante que pareça. Esse ato de comemorar algo gera um estímulo muito positivo no cérebro, o que alimenta a nossa motivação e a nossa coragem para continuar persistindo. Não deixe para celebrar apenas na linha de chegada, motive-se ao longo de todo o processo. É isso o que torna a vida mais interessante e feliz!

Coloque as dicas acima em prática, de modo que você possa efetivamente persistir no alcance das suas metas, mas sem insistir. Em resumo, aprenda com os seus erros e tente de diferentes formas até encontrar o que deseja. Errar e insistir no erro, sem fazer qualquer tipo de mudança, é a receita do fracasso. Planeje-se, mas permita-se mudar quando for preciso. A chave do processo é agir com mais flexibilidade!