Errar é o ato de tentar fazer algo, mas obter um resultado diferente do esperado. Pense em um ginasta olímpico, por exemplo. Na mente dele, ele visualiza a série de acrobacias que executará sobre o solo. Se, por algum motivo, a série que ele executar for diferente da que havia projetado na sua mente, dizemos que ocorreu um erro.

Nesse caso, o ginasta pode ter calculado mal o espaço do tablado, corrido demais antes de iniciar a acrobacia, pegado pouco impulso, executado as rotações com velocidade insuficiente, cruzado as pernas em um momento inadequado, e por aí vai. O código de pontuação da ginástica prevê uma série de erros, desde os mais simples até os mais graves, e os juízes ficam com os olhos atentos para identificar todos esses erros.

Então, assim como um ginasta, nós precisamos aprender a lidar com o erro. Aliás, é importante não ter medo de errar, mas também não precisamos “gostar” de falhar, não é mesmo? É um equilíbrio delicado, que precisa ser atingido.

Aceitação do erro como parte do processo

Voltando ao exemplo do ginasta, é comum que os esportistas dessa modalidade treinem, no mínimo, 6 horas por dia. São 360 minutos fazendo saltos, mortais, piruetas, acrobacias e coreografias a serem apresentadas nas competições. Você acha que o atleta, por mais bem-sucedido que seja, sempre acerta todos esses movimentos?

O que se vê é justamente o contrário. O ginasta mais erra do que acerta. Especialmente se ele estiver aprendendo um movimento novo para elevar o grau de dificuldade das suas séries, ele vai cometer erros até que consiga dominar e aperfeiçoar as acrobacias a serem exibidas.

Isso vale para qualquer pessoa e para todas as áreas da vida. O erro precisa ser aceito como parte do processo. Lembre-se de quando você aprendeu a ler, a fazer cálculos matemáticos, a dirigir, a cozinhar, entre outros, muitas falhas foram cometidas em todos esses afazeres. Mas, e aí? Você deixou de conseguir fazer isso tudo? Não, você provavelmente superou as dificuldades iniciais e hoje executa tais tarefas com normalidade.

PSC

Superar os desafios do início, porém, não significa que deixamos de errar. Mesmo as pessoas mais experientes cometem eventuais falhas, o que pode acontecer por desatenção, desconcentração, mudanças de tática, e por aí vai. Portanto, independentemente da sua idade ou fase da vida, abrace a ideia de erro como fator essencial à experiência humana.

O aprendizado por meio dos erros

O erro é inevitável. Muitas vezes, tomamos uma série de cuidados com aquilo que vamos fazer, mas, mesmo assim, a falha surge de onde menos poderíamos imaginar. Existem alunos de cursos superiores de engenharia civil, por exemplo, que realizam avaliações de altíssima complexidade, com extensas fórmulas e cálculos complexos. No entanto, uma simples falha aritmética ou um sinal trocado podem levar toda a resolução desenvolvida por água abaixo.

Assim, quando erramos, mesmo algo assim tão simples, o que devemos fazer? Chorar? Talvez. Em alguns momentos, precisamos mesmo extravasar as emoções negativas, como a tristeza e a frustração. O que não podemos fazer é parar por aí e partir para a desistência. Não, o erro não precisa ser o fim, mas apenas um intervalo.

Se esse aluno de engenharia pegar a prova corrigida pelo professor, ele conseguirá analisar exatamente quais foram os erros que ele cometeu e o que ele deve fazer para ter um resultado melhor na próxima prova. Nesse caso, não estamos falando apenas de estudar mais, mas também de desenvolver a concentração, a calma e o foco para que essas falhas mais “bobas” também deixem de ocorrer.

É isso o que toda pessoa deve fazer quando erra: entender as origens do erro e investigar o que podemos mudar para acertar daqui para frente. Isso envolve modificar crenças, adotar novos hábitos, adquirir novos conhecimentos, planejar melhor as ações, enfim, promover melhorias de alguma maneira.

O desenvolvimento da resiliência

O erro, portanto, é um sinal de que alguma coisa precisa ser modificada. Ele é obviamente desagradável. Todo mundo deseja alcançar o seu objetivo sem cometer falhas. Errar atrapalha, atrasa e demanda algo que é particularmente complicado para as pessoas: mudar. Todo erro é um convite à mudança.

Esse processo todo pode não ser assim tão objetivo. Admitir um erro envolve admitir a própria vulnerabilidade e a própria natureza errante, o que nunca é fácil. Estar errado pode gerar vergonha, tristeza e uma sensação de incapacidade. Além disso, mudar a forma de pensar e de agir demanda coragem, o que pode ser particularmente difícil nesse momento de fragilidade.

Sim, lidar com os erros é algo que exige uma base psicológica sólida. Não é à toa que os esportistas frequentemente contam com apoio psicológico e que os estudantes (sobretudo universitários ou em fase pré-vestibular) também recorrem a esse tipo de auxílio.

É por isso que falamos tanto em resiliência. Ser resiliente é admitir o próprio erro e superar todos esses sentimentos negativos que vêm junto com ele. O que pode nos ajudar nesse momento é nos lembrarmos de que todo mundo erra — todo mundo mesmo, sem exceção! Assim, entendemos que errar não nos torna inferiores a ninguém, mas apenas iguais: simples seres humanos.

Reconhecimento dos limites: não “gostar” de errar

Se o erro desperta todas essas emoções desagradáveis, há uma razão para isso. Esse incômodo é justamente o que nos desperta para a mudança. Se as pessoas errassem e não ficassem incomodadas com isso, elas muito provavelmente continuariam a agir sempre da mesma maneira e, consequentemente, falhariam continuamente, sem qualquer perspectiva de mudança.

Portanto, lembre-se de que é preciso aceitar o erro como parte da experiência, mas também que ninguém deve “gostar de errar”. Se você fica chateado quando erra, entenda que essa reação é normal e saudável.

O importante é encontrar um nível saudável de tolerância ao erro: não ficar extremamente frustrado ou deprimido a ponto de desistir de tudo, mas também não ficar “confortável demais” de modo a cair no comodismo e não se esforçar para acertar nas próximas tentativas.

Voltando ao exemplo do ginasta olímpico, ele não pode ter uma tolerância baixíssima às falhas que cometer, pois isso o tornaria um péssimo competidor e até mesmo o levaria a desistir do caminho profissional que escolheu. Por outro lado, se ele não ligar para as falhas que cometer, permanecerá sempre com o mesmo desempenho, sem progredir, o que fatalmente diminuirá a sua competitividade e o afastará das grandes conquistas com as quais sonha.

Isto vale para qualquer pessoa: mantenha a sua capacidade de lidar com os erros sempre dentro desse intervalo saudável. Somente assim você conseguirá evoluir em todas as áreas desejadas. É a velha história da persistência, e não da insistência.

Responsabilização pelos erros

Todo esse processo de ressignificar os erros e de extrair deles aprendizados valiosos depende fundamentalmente de assumir a responsabilidade sobre as nossas falhas. Para que uma pessoa aprenda com os próprios erros, ela precisa assumir que a falha partiu dela, e não de terceiros.

Infelizmente, para quem não sabe o que fazer quando erra, existe uma tendência a “empurrar” a culpa. Perceba que muitas pessoas que não fazem aquilo que queriam/deveriam arranjam desculpas: a culpa é do governo, do clima, da falta de tempo, do vizinho, e por aí vai.

O problema é que, enquanto a pessoa não perceber que o erro partiu dela, ela jamais aprenderá com essa falha. “Se a culpa é do outro, o eu tenho a aprender com isso?”. Esse raciocínio é muito comum, mas bloqueia todas as incríveis possibilidades de aprendizado e crescimento que as falhas podem nos oferecer.

Além disso, desenvolver esse tipo de responsabilidade favorece a maturidade. Uma pessoa que se responsabiliza pelas próprias atitudes e consequências, tanto as boas como as não tão boas, consegue construir relações muito mais favoráveis com as pessoas em geral, tanto do círculo pessoal como do círculo profissional. Muitos conflitos são evitados ou mais facilmente resolvidos a partir dessa atitude.

Avaliação constante

Para que uma pessoa consiga errar sem insistir no erro, é importante desenvolver o autoconhecimento. É conhecendo a si mesmo que um indivíduo identifica determinados padrões de pensamentos, sentimentos, falas e atitudes que podem não estar contribuindo com o seu progresso.

A partir desse olhar mais intenso para si mesmo, o indivíduo consegue desenvolver senso crítico para detectar os próprios erros com mais facilidade. Isso significa identificar as falhas sem desesperar-se, sem culpar-se, sem sentir-se um fracassado, enfim, observando os erros apenas como pequenas pausas antes do estado desejado.

Por esse motivo, todos nós precisamos fazer balanços na vida de tempos em tempos. Em todas as áreas, precisamos mensurar o quanto estamos perto ou longe daquilo que desejamos. Se estivermos cada vez mais perto, é sinal de que estamos errando menos. Se estivermos ainda muito distantes das nossas metas, talvez seja necessário repensar nas estratégias que estamos adotando.

Um exemplo prático: se a sua vida financeira não está do jeito que você deseja, verifique os pontos em que está errando e o que pode fazer para corrigir. Pode ser que você precise aumentar ou diversificar as suas fontes de renda, cortar gastos, investir com mais cautela, construir uma reserva para emergências, entre outros. As respostas, só você será capaz de encontrar, com base na análise que fizer dos seus próprios erros.

Lembre-se de que superar o medo de errar é um processo contínuo. À medida que você incorpora essas estratégias na sua vida diária, é possível desenvolver uma mentalidade mais positiva e construtiva em relação aos erros. 

A ideia é normalizar o erro, tendo em vista que ele acontece com qualquer ser humano, independentemente do momento que esteja vivendo. Todavia, essa normalização das falhas não corresponde a “gostar de errar”. Erre, mas sempre com o objetivo de aprender e de acertar futuramente!